Wednesday, September 27, 2006

EPISÓDIO 20

NO INTERVALO EM QUE WENDERSON RECEBEU O TELEFONEMA, PEGOU O CELULAR E DEVOLVEU, VEJAM O QUE ACONTECEU.

O CIÚME
- Felício, vamos proibir a entrada da lourinha aqui no colégio.
- Proibir, Clarice? No colégio entra tanta gente!
- É por isso mesmo! Imagine se acontece novamente aquela confusão que Dulcinéia aprontou!
O prof. Galvão não respondeu. Só de pensar na possibilidade de não ver mais Andie por ali, ficou inquieto.
Sorte é que a secretária da diretora abriu a porta e anunciou:
- Professor, aquele grupo de chineses, coreanos... sei lá, que querem fazer o curso para estrangeiros, está aqui.
Chateada por ter sido interrompida, Clarice determinou:
- Vai atender o pessoal, professor! Depois conversamos!

Felício saiu e encontrou o grupo esperando por ele. À frente estava um homem cabeludo, de terno creme e camisa azul, o qual falava corretamente o português.

A SURPRESA
No mesmo instante Andie vinha chegando. Andava apressadamente pelo corredor. Wenderson a viu, mas não teve tempo de fotografá-la porque outras pessoas passaram junto com ela.
- Droga, a lourinha entrou muito rápido. Perdi essa!
Fazia frio. Andie estava toda de preto – vestido, meia e sapato baixo - e trazia consigo um embrulho, um presente que comprou em Istambul para Júlia, a mãe de Tina.
Já chegando perto da cantina, ela avistou o grupo de asiáticos vindo em direção contrária a sua e imediatamente reconheceu o homem que falou com ela pelo monitor da TV do trem que atravessava a fronteira austro-húngara. Apavorou-se e começou a tremer, mas num relance, virou-se de costas, rasgou o embrulho, retirou apressadamente um véu preto e segurando-o de ponta a ponta, ergueu-o sobre a cabeça, cobrindo os cabelos louros e cobrindo também o rosto.
Wenderson captou todos os seus movimentos, desde o momento em que ela ergueu os braços e lançou o véu sobre a cabeça. E foi nesse exato momento que ele acionou o celular.
Com a cabeça completamente coberta, quase correndo, ela entrou em outro corredor na direção do estacionamento. O porteiro, ao olhar a sua imagem gravada no celular, enlouqueceu.
- Meu Deus! Que mulher! Agora sei porque Dulcinéia confundiu ela e aprontou aquela confusão!
Com o rosto quase todo coberto e olhando para o chão para que seus olhos azuis não fossem vistos, Andie saiu apressadamente dali.

No EPISÓDIO 21, Dulcinéia procurou saber do futuro. Você nem imagina o que aconteceu... Não percam! Enquanto isso, no presente ... Na Ponta do Lápis

Thursday, September 21, 2006

EPISÓDIO 19

O SUBORNO
Wenderson, o porteiro do colégio, negro, namorador, fanqueiro, louco por qualquer menina, quando saía à noite pra “catar”, como ele mesmo dizia, vestia-se de maneira quase irreconhecível, como qualquer jovem da sua idade. Boné, roupa dark, botas pretas, correntes, etc.
E naquela noite, enquanto se preparava pra ir à Quadra, recebeu um telefonema que o deixou mais animado ainda. A garota falava com voz macia, sensual, procurando se insinuar. Mas em determinado momento, quando a menina mudou o rumo da conversa, Wenderson ficou intrigado:
- Peraí, gatinha! Qual é a sua?
- Ué bro, tô te falando?
- Ainda não saquei porque devo tirar uma foto da lourinha pra você. Qual interesse?
- Véio, vai amarelar? Pô! Deixo o celular naquele lugar que te disse. Junto, três notas de R$ 100,00. O que você tem a fazer é...
- Mas....
- Posso continuar? – a garota pareceu irritada.
- Vai fundo!
- Tu pega o celular e as notas. Quando vir Andie, discretamente fotografa ela. E depois devolve o celular no mesmo lugar onde pegou. Quando devolver, tem mais duas notas de 100 pila* te esperando.
- Uau!!! – o rapaz deu um salto. –Tá valendo, gata!
- Tem que pegar o celular daqui a meia hora. Vai à Quadra?
- Já tô atrasado!
- Demore mais meia hora.Vai faturar uma grana legal! Vou colocar o celular no lugar combinado, ok?
- Ok, gatinha! Gostei da sua voz, sacou? Depois a gente poderia...
A resposta que obteve foi o corte brusco da ligação, que o deixou meio abobalhado.
Quem estava ao lado da garota, depois de desligar o telefone, estendeu duas notas de R$ 100,00 pra ela, que feliz com a recompensa, confessou:
- Putz!!! Nunca pensei que um trote me rendesse tanta grana!
Quem estava ao lado da garota acenou irritado, pedindo-a para se retirar.

Wenderson colocou o boné, ajeitou a calça cuidadosamente para que a beirada da cueca branca de grife aparecesse e olhou o relógio. Pensou nos 300 pila que iria faturar na maior moleza e se preparou pra ir ao local indicado.

2ª parte
Meia hora depois, o porteiro pegou o aparelho, ao mesmo tempo em que uma idéia atravessou a sua mente. Iria descobrir o número do celular e assim faturar mais grana em cima de quem ligou.
Ao se dirigir para o baile fanque depois disso, ele nem imaginava que todos os seus passos estavam sendo matematicamente observados.

Três dias depois, Wenderson recebeu outro telefonema da mesma pessoa. Ele já havia fotografado a lourinha e iria devolver o celular. Embora fosse um aparelho de última geração, o rapaz não conseguiu descobrir o número. Acabou desistindo. Afinal, tinha ganhado R$ 300,00 na moleza.

Conforme combinado, deixou o aparelho num canteiro de gerânios e ficou escondido atrás de uma árvore pra ver quem viria buscá-lo. Passou-se muito tempo. O rapaz começou a ficar cansado e resolveu se sentar num banco meio escondido pela vegetação, quando passou por ele uma garota negra, linda, de trancinhas afro e bastante atirada, fumando.
Wenderson não resistiu quando a garota se sentou num banco de frente e ergueu a perna pra amarrar o tênis. Ele viu “tudo“. E “aquilo” deixou ele doidão. Levantou-se e foi até lá. Ela sorriu, disse um oi. O rapaz sentou-se tão perto que sentia o calor do seu braço.
- E aí, gata?
A menina, jogando o cigarro fora, completou.
- Estamos aí!
- A fim de um cineminha?
- Só... mas antes, me espera aqui? Vou ao banheiro do parque!
- Ok!
Ela saiu. Wenderson se lembrou de que estava na expectativa de descobrir quem vinha pegar o celular. Rapidamente correu ao local. O aparelho já não estava mais lá. Decepcionado, ele constatou:
- Droga! Vacilei! Ainda bem que vou faturar a neguinha!

Assim que a garota contornou uma alameda florida, saiu de trás de uma árvore um motoqueiro, jaqueta de nylon, luvas de lã, botas sujas de lama e calça de moletom muito surrada. Irreconhecível, como qualquer motoqueiro de capacete. Não para a garota, que o esperava. Ele apenas esticou a mão sem ao menos abrir a boca e passou pra ela três notas de R$ 100,00. Com os olhos arregalados, a menina sorriu.
- Desde o primeiro telefonema pro tal do Wenderson, não consigo entender...
O motoqueiro, irritado, dando chutes numa árvore, tirou as luvas. E como se fosse esganar a negrinha, avançou na sua direção.
A menina saiu correndo e gritando. Ele também se assustou com a reação dela. Subiu apressadamente na moto e se mandou dali.

Assim que se viu seguro, o motoqueiro estacionou, retirou do bolso o celular com a foto de Andie e olhou-a cheio de ternura. Depois, num gesto propício de uma criança, encostou os lábios no aparelho como se estivesse beijando a lourinha.
Felício Galvão fechou lentamente o celular e guardou-o no bolso da jaqueta. Seus olhos brilhavam de felicidade.

Nota: pila é real em gauchês. Não se usa no plural.

Medo, ciúmes, intrigas e mistérios. Os ingredientes do EPISÓDIO 20. Não perca! E não perca também umas perguntinhas pra testar o seu humor em Na Ponta do Lápis.

Thursday, September 14, 2006

EPISÓDIO 18

PENSAMENTO ALADO
Final
O facho de luz que jorrava sobre Penha, a cozinheira do Ministro, foi apagado, pondo fim à entrevista. Ela sorriu, satisfeita por ter debochado da situação brasileira e ergueu do chão a pesada sacola, onde carregava sobras de comida para os dois filhos. E ainda sorrindo, seguiu para o ponto de ônibus.

Em seu quarto, sem ver uma novela sequer, Dulcinéia ficou lembrando da sua tentativa de participar do vídeo com Yana Bahra, o diretor Sérgio, irritadíssimo, gritando com os figurantes. Tudo muito louco, agitado. Rindo baixinho para não perturbar a mãe que dormia no outro quarto, ela desligou a TV, dizendo:
- Mulher maluca, essa...
Ligou um rádio que havia sobre o criado e ficou deitada, imóvel, ouvindo músicas. Pensamentos começaram a polvilhar a sua mente. Algumas horas depois, uma sensação de leveza foi invadindo o corpo e ela caiu no sono.
Surgiu novamente o cavaleiro de cabelos ao vento, que agora, embaralhado em seus pensamentos, girava o volante de um ônibus coletivo. Do nada, aparecia o prof. Galvão, alto, moreno, andando apressado pelo imenso corredor do colégio. E retirando os cabelos negros caídos na testa, arrancava violentamente o volante das mãos do motorista. E jogando uma faixa branca ao vento, de longe mesmo ele gritava para a sua mãe.
- Dulcineia dá muita trela para os alunos, d. Maria Porém!
Ela entrava no ônibus. Dizia boa tarde. O motorista acenava com a cabeça e sorria, mostrando dentes de dar prejuízo ao dentista. Os cabecinha branca se afastavam, desobstruindo o corredor. E um deles, brincando, perguntava:
- Você é a namorada do motorista, menina?

Depois de mulheres como Andie, Dulcinéia, Tina e Júlia, os homens estão chegando à minissérie. Primeiramente, o motorista do ônibus. Agora você vai conhecer Wenderson, negro, fanqueiro, namorador... Não perca O SUBORNO - EPISÓDIO 19.

E uma comédia made in Brasília está rolando no Na Ponta do Lápis.

Wednesday, September 13, 2006

EPISÓDIO 17

PENSAMENTO ALADO
1ª parte
Dulcinéia chegou em casa pensativa. Não quis jantar. Estranhamente o motorista
não lhe saía cabeça. Como sempre, ligou a TV para ver as suas
novelas e sem se dar conta, começou a trocar os canais, até que algo
lhe chamou a atenção. Era um repórter de televisão preparando uma matéria.
O rapaz corria de um lado para o outro da rua, procurando alguém pra
entrevistar. Quando finalmente encontrou uma mulher carregando uma pesada
sacola e ela concordou, ele iniciou os trabalhos dizendo:
“Ainda bem que o Brasil é um país democrático. O povo é livre. Não existem preconceitos de raça e nem de cor. E tudo vai muito bem. Querem ver? ”
E dirigindo-se à mulher:
- Diga para o telespectador. A senhora tem algum preconceito de raça?
- Sim! Detesto cachorro!
- Algum preconceito de cor?
- Eu detesto vermelho. Me decepcionei com...
- É livre a mulher brasileira?
- Eu, pelo menos, sou casada.
- Já sofreu alguma discriminação?
- Já. Não recebo mensalão. Nunca fui subornada! Sanguessuga que conheço é aquele bichinho que dá nas águas.
- O que acha da situação atual?
- Boa! Muito boa! Moro bem... mal, ganho bem... mal. O dinheiro corre solto para o bolso dos mesmos. Tudo bem!
- Acha que a inflação está sob controle?
- Inflação? Que é inflação? É algum ataque terrorista?
- E o problema da moradia...
- Graças a Deus, não tenho esse problema. Meu barracão tem exatamente 14,88m2 de área. Construído pela Prefeitura.
- E a criminalidade? Os pivetes que assaltam...
- Nunca fui assaltada! Quando vejo uns 187 pivetes vindo na minha direção, entro correndo na primeira loja que vejo aberta.
- Por que a primeira loja aberta?
- Porque muitas já foram fechadas. Dizem que é a crise econômica.
- E as longas filas do SUS?
- Diz o “homem” que vai acabar com as filas. Prometeu alargar as portas do SUS. Assim o povo pode entrar todo de uma só vez.
- Sobre as escolas, a educação...
- Lá no meu bairro os vândalos não deixam um vidro inteiro. Quebram tudo. A escola está em ruínas.
- E sobre a vida do brasileiro comum, que luta pela sobrevivência?
- A vida do brasileiro comum está de amargar pra quem sente inveja da “felicidade” dos outros.

Continua no EPISÓDIO 18
Você sabe quem é a mulher que concedeu a entrevista? Não? O nome dela e o sonho de Dulcinéia serão revelados no próximo episódio. Enquanto isso, leia o meu blog de contos - Na Ponta do Lápis.

Friday, September 08, 2006

EPISÓDIO 16

QUEM SABE UM NOVO AMOR?
Final
Encerrada a reunião, o prof. Galvão saiu da diretoria. No corredor, avistou Dulcinéia escoltada por dois alunos, os quais, rindo alto, penduravam em seus ombros.
O PhD acelerou os passos.
- O que estão fazendo fora da sala?
- Viemos tomar água, professor!
- Nos ombros de Dulcinéia? A fonte secou! Já pra dentro! E você Dulcinéia...
KK e Tiago correram, segurando as calças frouxas que desciam, querendo deixar as cuecas sozinhas.
Dulcinéia fingiu que não ouviu e foi andando devagar, como se nada tivesse acontecido.
O renomado Professor alcançou-a:
- Dulcinéia, você dá trela demais pros alunos...
- Trela?
Ela sabia o que o PhD queria dizer, entretanto, quis fazer uma expressão de espanto que havia ensaiado há algum tempo no curso de teatro.
- Trela, confiança... ficar brincando com eles.
- Professor, somos amigos!
- Sei, mas não vamos transgredir as regras!
- Prometo que nunca mais vai acontecer, professor!
Finalizou a conversa e seguiu pelo corredor, passando os dedos abertos entre os cabelos, remexendo-os. Cabeça e ombros erguidos. Não rebolava. Lembrou-se de um curso que fez, no qual a professora de Ética e Postura recomendava: - “Você é uma mulher sensual. Linda e maravilhosa. Nunca rebole! Deixe que os quadris balancem ao ritmo dos passos. Ande ereta. Fite as pessoas com simpatia. Ponha uma expressão de felicidade na face e o resto... o resto... tudo pode acontecer!”
As alunas sorriam com simpatia, fazendo desabrochar a mulher maravilhosa que cada uma tinha dentro de si.
No final do turno escolar Dulcinéia voltou pra casa com a cabeça nas nuvens, feliz da vida, sem nem saber o motivo. Ao subir os degraus do ônibus, percebeu que ainda não tinha visto aquele motorista. Devia ser um novato na linha. Ela disse boa tarde. O rapaz respondeu com um aceno e um sorriso que mostrava dentes de dar prejuízo ao dentista, o que a fez esquecer dos cabecinha branca que ficavam atrapalhando a entrada. Ela empinou os ombros, deu três passos à frente e passou pela roleta, encantadoramente, girando os quadris de maneira graciosa, desejando ser vista por todo mundo.
Infelizmente alguns trabalhadores aproveitavam o longo percurso do ônibus pra tirar um cochilo.
Ela sentou-se ao lado de um padre. Queria que naquele lugar estivesse um jovem atraente. Recostou a cabeça na janela, apoiando o queixo com o dorso da mão direita e fechou os olhos.
O pensamento ganhou asas, juntamente com o ônibus que avançava pela avenida arborizada.
F I M
No EPISÓDIO 18, Dulcinéia tem um sonho que acaba confundindo a sua cabeça. Não perca!
E diretamente de Brasília para o Na Ponta do Lápis, NO LUGAR ERRADO.

Wednesday, September 06, 2006

EPISÓDIO 15

QUEM SABE UM NOVO AMOR?
1ª parte
- Clarice, veja este desastre ortográfico. Olha o absurdo! Você não acha que a gente devia incluir o latim na Grade Curricular?
Enquanto falava, o renomado professor mostrava folhas de caderno rabiscadas de vermelho para a diretora.
- Felício, os alunos vão dizer que estamos fedendo mofo. – replicou Clarice, procurando uma pulseira no meio da papelada espalhada sobre a mesa. Quando resolveu olhar os exercícios, exclamou:
- Céus! Às vezes nem dá pra entender o que escreveram!
- O latim daria base para a ortografia. – ponderou o PhD.
À medida que a diretora lia, seus olhos se arregalavam mais e mais. Entretanto, a surpresa foi rapidamente contida quando viu a porta ser empurrada lentamente e aparecer o bico de um sapato preto fechado. Depois, veio surgindo uma bandeja de prata. Era Dulcinéia, que além do lanche, trazia no rosto um ar de preocupação.
A diretora se dirigiu a ela, abotoando a pulseira:
- Pode deixar aqui, Dulcinéia. – falou, mostrando uma mesinha ao seu lado.
Ao perceber que a copeira não se movia, Clarice repetiu.
- Deixe a bandeja na mesinha! E ligue a TV, por favor!
Dulcinéia estava preocupada porque a sua mãe, dona Maria Porém, hipertensa, não estava bem naquele dia. Quando ela saiu cedinho de casa, o remédio da mãe havia acabado. E não houve tempo de ir a farmácia comprar outro.
Ela obedeceu, deixando a bandeja no local indicado, mas quando ligou a TV, uma notícia a fez esquecer por um momento o problema, substituindo a preocupação por revolta.
... “ presos os dois bandidos que assaltaram a joalheria no shopping Galeria - um homem jovem com aparência eslava e uma mulher morena, de uns 40 anos. A Polícia Federal está investigando o caso, pois existem fortes indícios de que a quadrilha é formada por estrangeiros e que tem ramificações aqui no Brasil...
- Era só que faltava! Não bastasse a nossa violência, esses gringos vêm roubar aqui? – Dulcinéia já demonstrava uma repentina mudança de humor.
- Clarice, nesse dia eu estava jantando no shopping! – contou Felício.
- Coincidência! Eu também estava lá!
Percebendo que os dois não deram importância ao seu comentário, Dulcinéia se retirou da sala, pensando:
- Pagava pra ver essa diretora, baratinada, correndo no meio do tiroteio. E o professor? Não, ele não! Se não fosse por ele, essa cascavel já teria me demitido.

Não perca a continuação no EPISÓDIO 16
E conheça o meu blog de contos/crônicas - Na Ponta do Lápis

Friday, September 01, 2006

EPISÓDIO 14

ECONOMIA VERMELHA
Fazia muito calor. Os adolescentes estavam agitados, na maior algazarra, jogando bolinhas de papel uns nos outros, cutucando as meninas, gritando e subindo nas carteiras quando o professor Galvão chegou. Eles pararam com a bagunça? Claro que não! Só porque um professor chegou, eles iriam interromper o fusuê? Não mesmo!
Para conter os ânimos e como adorava ortografia, o PhD resolveu fazer o seguinte joguinho: dar um ditado para em seguida os alunos usarem as mesmas palavras numa redação.
- Passa o ditado no quadro, professor! – pediu um aluno menos comportado.
Todos caíram na risada. Era sempre assim. Alguém esperava que o outro soltasse uma piadinha pra sala inteira rir.
- Você me deu uma boa idéia. É o que vou fazer.
- Oba! – a sala inteira gritou, mas um valeu brother soou mais alto.
Felício Galvão voltou-se para o quadro. A turma abriu os cadernos. Repentinamente o professor virou-se para a sala e determinou:
- Escrevam!
Tiago argumentou, meio chateado.
- O senhor não ia passar no quadro?
- Pretérito!
- Não saquei! Viajei nessa!
- Pretérito: passado. Ia, não vou mais!
- Ah!...
A sala inteira estava em silêncio aguardando o seguinte: que o professor começasse o ditado ou que surgisse uma gracinha pra todo mundo cair na risada. Pintou a primeira opção.
O professor disse para a garota de cabelos castanhos que passava batom:
- Tina, assim que eu terminar, você dita e eu escrevo no quadro para a correção. Assim me livro de ver tanto vermelho na minha frente.
Um tatuado, puxa-riso, disse.
- Putz, Professor! O senhor também não gosta de vermelho?
- Ao contrário. Gosto tanto que vou economizar a tinta vermelha da minha caneta!

Encerrada a aula, empurrando uns aos outros, os alunos deixaram a sala. Alguns pela janela mesmo. O renomado professor ficou sentado, organizando as folhas de caderno e olhando Tina configurar o celular. Quando a menina se levantou...
- Tina, quero falar com você!
- Ai, professor. Pode baixar a guarda! Eu não fiz nada! Aquela Dulcinéia é uma chata!
- Não é sobre isso...
Tina olhou-o intrigada. Ele perdeu a coragem de falar.
- Rápido, professor! Meu motorista está me esperando, mas acho que já sei o que é!
- Sabe nada. Pode ir, Tina!
- Xi!!! Não quer falar.... Fui!
E saiu. Felício ficou sozinho, olhando pensativo para a janela por onde os alunos pulavam aos montes, um atrás do outro, na maior algazarra. Entretanto, não se passaram dois minutos e a porta se abriu novamente. Tina entrou apressada e entregou a ele um pedaço de papel.
- Taqui, professor, o que o sr. queria! Mas vou logo avisando: ela viajou!
Felício agarrou rapidamente o pedaço de papel e enfiou no bolso da camisa. A filha do ministro saiu. Ao se ver sozinho, ele abriu o papel e deu pulos de alegria. Dava socos no ar, segurando com força o papel onde constava o número do celular de Andie.
E nessa euforia toda, dirigiu-se para a sala da diretora. Antes de entrar, respirou fundo e assumiu uma outra postura. A postura do professor mais respeitado do colégio.

Paixões invadiram a minissérie no EPISÓDIO 15 - QUEM SABE UM NOVO AMOR? E também um mistério que deixou muita gente com a pulga atrás da orelha será revelado.
Duas amigas, uma do Rio e a outra de Fortaleza. E entre elas um diálogo surpreendente -
Na Ponta do Lápis.