Wednesday, September 13, 2006

EPISÓDIO 17

PENSAMENTO ALADO
1ª parte
Dulcinéia chegou em casa pensativa. Não quis jantar. Estranhamente o motorista
não lhe saía cabeça. Como sempre, ligou a TV para ver as suas
novelas e sem se dar conta, começou a trocar os canais, até que algo
lhe chamou a atenção. Era um repórter de televisão preparando uma matéria.
O rapaz corria de um lado para o outro da rua, procurando alguém pra
entrevistar. Quando finalmente encontrou uma mulher carregando uma pesada
sacola e ela concordou, ele iniciou os trabalhos dizendo:
“Ainda bem que o Brasil é um país democrático. O povo é livre. Não existem preconceitos de raça e nem de cor. E tudo vai muito bem. Querem ver? ”
E dirigindo-se à mulher:
- Diga para o telespectador. A senhora tem algum preconceito de raça?
- Sim! Detesto cachorro!
- Algum preconceito de cor?
- Eu detesto vermelho. Me decepcionei com...
- É livre a mulher brasileira?
- Eu, pelo menos, sou casada.
- Já sofreu alguma discriminação?
- Já. Não recebo mensalão. Nunca fui subornada! Sanguessuga que conheço é aquele bichinho que dá nas águas.
- O que acha da situação atual?
- Boa! Muito boa! Moro bem... mal, ganho bem... mal. O dinheiro corre solto para o bolso dos mesmos. Tudo bem!
- Acha que a inflação está sob controle?
- Inflação? Que é inflação? É algum ataque terrorista?
- E o problema da moradia...
- Graças a Deus, não tenho esse problema. Meu barracão tem exatamente 14,88m2 de área. Construído pela Prefeitura.
- E a criminalidade? Os pivetes que assaltam...
- Nunca fui assaltada! Quando vejo uns 187 pivetes vindo na minha direção, entro correndo na primeira loja que vejo aberta.
- Por que a primeira loja aberta?
- Porque muitas já foram fechadas. Dizem que é a crise econômica.
- E as longas filas do SUS?
- Diz o “homem” que vai acabar com as filas. Prometeu alargar as portas do SUS. Assim o povo pode entrar todo de uma só vez.
- Sobre as escolas, a educação...
- Lá no meu bairro os vândalos não deixam um vidro inteiro. Quebram tudo. A escola está em ruínas.
- E sobre a vida do brasileiro comum, que luta pela sobrevivência?
- A vida do brasileiro comum está de amargar pra quem sente inveja da “felicidade” dos outros.

Continua no EPISÓDIO 18
Você sabe quem é a mulher que concedeu a entrevista? Não? O nome dela e o sonho de Dulcinéia serão revelados no próximo episódio. Enquanto isso, leia o meu blog de contos - Na Ponta do Lápis.

14 Comments:

At 2:12 PM, Blogger Rubo Medina said...

RESUMO DO EPISÓDIO 16
1 - O renomado professor chama a atenção de Dulcinéia porque ela estava brincando no corredor com dois alunos - KK e Tiago.
2 - Na volta pra casa, Dulcinéia conhece um motorista novato na linha, que sorri pra ela, exibindo "dentes de dar prejuízo ao dentista..."

 
At 2:57 PM, Blogger Liliane de Paula said...

Vou reler o episódio 16 para me situar melhor. Mas a Dulcineia enlouqueceu com aquelas perguntas?
Liliane

 
At 3:35 PM, Blogger Claudinha ੴ said...

Olá Rubo! Gostei demais desta entrevista de Dulcinéia, suas respostas são ótimas. Beijão!

 
At 5:59 AM, Anonymous Anonymous said...

Rubo meu querido, já voltei!!!
Obrigada pelo carinho deixado no amar-ela!
Beijinhos da Daniela

 
At 9:28 PM, Anonymous Anonymous said...

olá, Rubo, aproveito para me atualizar, acompanhando os pensamentos de Dulcinéia, as loucuras imaginárias, as contradições no colégio, um mundo de situações bem interessantes, de fazer rir até os mais sisudos.
Vai meu abraço e parabéns pela criatividade.
Valeria bem a pena preparar o livro da Dulcinéia, seria uma boa contribuição ao humor nosso.
Felicidades!

 
At 6:48 AM, Anonymous Anonymous said...

Rubo muito interesante este episódio.
Estou adorando e aguardo ansiosamente o próximo.
Até mais.
Abraços.

 
At 11:50 AM, Anonymous Anonymous said...

Aqui só queria dizer o seguinte: se eu fosse a Dulcinéia, tomaria o microfone e daria uma microfonada nele! Putz... o cara é pior que o Faustão!!! rs...
Beijos

 
At 5:51 AM, Anonymous Anonymous said...

Esse seu jeito de dialogar é tão bom que vou começar a me basear nele. Rubo!!! Eu não sei fazer diálogos!!! Se vc já leu meus textos em prosa, vai se certificar disso...
Nos diálogos, vc introduz as idéias, de forma espirituosa, leve e parece suspender o "julgamento próprio", deixando a tarefa para quem lê...
E, já percebi que aproveita a história da Dulcinéia e coloca sua participação nos "problemas" atuais..
E, me espere, que estou atrasada nas leituras!!!!
Beijos!
Dora

 
At 3:26 PM, Anonymous Anonymous said...

Tadinha da Dulcinéia! Como o padre nem deu bola pra ela, acabou indo pra casa com o motorista novato que sorriu para ela - na cabeça, claro! O tal dos "dentes de dar prejuízo ao dentista" deve ter continuado na direção do ônibus, né? Mas louca como ela só, pode até ser que o entrevistador com síndrome de Faustão tenha feito outra entrevista e ela tenha sonhado com aquelas respostas. Em todo caso, no conjunto, acaba sendo um retrato atual do país em que vivemos. E no qual deveremos continuar vivendo, com batráquio e tudo! Fazer o quê?

Abração procê.

 
At 4:00 AM, Blogger Saramar said...

É a pessoa entrevistada pode viver no mundo da lua emesmo assim consegue enxergar as mazelas da vida brasileira.
Muito boa, excelente a entrevista.

Beijos

 
At 10:37 AM, Blogger benechaves said...

Oi, Rubo: gostei da entrevista, bem humorada e com uma dose sutil de irreverência. E os diálogos revelando uma boa disposição nas abordagens.

Um abraço...

 
At 2:07 PM, Blogger Marco said...

Imagino que esta entrevista possa ser usada em algum programa do Horário Eleitoral Gratuito...
Estamos aí, seguindo pos passos de Dulcinéia.
Abração, Rubo.

 
At 3:00 PM, Anonymous Anonymous said...

Olá Rubo Medina,
Aqui manifestando
de novo
minha admiração por sua forma
de escrita!
Felicidades para
mais e mais...

Voltarei...

Com o carinho de:
ConchitaMachado

 
At 5:26 AM, Blogger Tyr Quentalë said...

Eis que me enganei. Quer dizer que o novo motorista mexeu com a cabeça da Dulcinéia? Vejo que alguém fará de tudo para pegar o mesmo ônibus, mas quanto a entrevista... Nunca ri tanto em minha vida. Mostrou bem a realidade Brasileira. Por mais que isso venha a espantar algumas pessoas, ver isso pessoalmente é o que nos faz desanimar com tudo que acontece aqui neste país. Mas temos que manter a esperança de que um dia isso tudo vai melhorar, não é?

 

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