Monday, June 04, 2007

EPISÓDIO 47 - final

ENFRENTANDO A VIDA
Felício Galvão se levanta cambaleando, apoiando-se nos móveis, chega até a janela do quarto. Afasta as cortinas. Seus olhos se perdem na paisagem de concreto. Depois se volta e procura o celular. Encontra-o caído ao lado do criado. Começa acionar o teclado. A figura da lourinha, aquela que Wenderson fez quando ela alçou o véu sobre a cabeça, fugindo do grupo de chineses na portaria do colégio, aparece. O dedo polegar do professor pressiona uma tecla. Passados alguns instante uma voz se soa na sala.
- Alô!
A surpresa invade as fisionomias. A voz continua repetindo alô. Felício Galvão arregala os olhos. Dulcinéia recua. Sua mãe não entende o que está acontecendo. A voz, vendo que ninguém responde, silencia.
Há incredulidade por todo o quarto. Dulcinéia rompe o silencio, pedindo.
- Dê aqui o celular, professor!
Ele obedece. A copeira aciona novamente o número e mais uma vez se ouve no quarto.
- Alô!
Dulcinéia recua, apavorada. Depois tentando se controlar, fala, atropelando as palavras.
- Quem está falando?
- Andie! Quem e?
- A copeira do colégio Magnata!
- Dulcinéia...
- É Andie mesmo? Menina, você não está morta?
- Como morta, se estou falando com você!
- O acidente...
- Foi um engano, Dulcinéia. Foi sorte! Estava no aeroporto esperando um outro vôo, quando uma amiga chegou e me convidou para ir a Bertioga. Estou aqui...
- Inconseqüente!
- Vai começar a me xingar agora? Não entendo sua implicância...
- Fique sabendo que por sua causa, alguém quase morreu!
- Quem?
- O professor Galvão. Estamos no apartamento dele... O professor está doente há quatro dias por sua causa!
- Desculpe, eu não sabia...
- Vê se pode reparar o seu mal feito. Fale com ele!
- Dulcinéia, nessa altura...
- Nessa altura, todo mundo pensa que você morreu num acidente aéreo. Até sua amiga, a creTina, quer dizer, Tina.
- Meu Deus...
- Fale com o professor, Andie!
Pela primeira vez, Dulcinéia não sente raiva da lourinha. Entrega o celular ao professor, que o segura com mão trêmula. Mãe e filha deixam o apartamento silenciosamente, no exato momento em Felício Galvão começa a falar, inexplicavelmente agora revestido de uma jovialidade que preenche todo o ambiente.

E no meu blog de contos/crônicas Na Ponta do Lápis, o último capítulo de DIÁRIO DE UM PERALTA

EPISÓDIO 47 - 2ª parte

O MILAGRE
Dulcinéia nunca esteve ali. Fica admirada com a bagunça do apartamento, o cheiro vindo do interior do ambiente fechado, cheiro de coisas sujas e mofo. Mesmo assim avança na penumbra e chega no quarto. Tamanha é a surpresa quando vê inerte na cama, como se estivesse morto, o professor mais popular e mais querido do colégio. Ela sente vontade de chorar, mas vira-se e vê a mãe atrás de si com os olhos arregalados, tremendo, apoiando-se num móvel.
Dulcinéia se alarma:
- Mamãe, tá passando mal?
A voz da filha faz dona Maria Porém cair em si. Ela dá alguns passos na direção do leito, sem despregar os olhos do professor barbudo, pálido, cabelos despenteados, imóvel, como se estivesse morto. Aproxima-se e não consegue conter a exclamação que foge da boca:
- Mirtes!!!
Dulcinéia abraça-a
- Mamãe!!!
Maria Porém avança mais. E trêmula, ergue as mãos sobre o professor. Todo o seu corpo é sacudido por uma convulsão.
- Meu Deus!!! Mirtes! Meu Deus... não! Estou sonhando!
Em sua mente passa em flasch a última coisa que a amiga disse no leito de morte “... Mariinha, salve o meu filho...”
Mais uma vez a voz de Dulcinéia desperta-a
- Mamãe. Que aconteceu!
- É ele, minha filha, o filho de Mirtes. Eu sinto! Oh, meu Senhor!
- Mamãe, tem certeza?
- Os olhos, os cabelos.... é ele! Oh! Senhor, glórias Te rendo, glórias Te dou. Oh meu Senhor, toque nessa alma que sofre! Resgate-a para Sua honra, para que o Seu nome seja glorificado! Em nome de Jesus, toque essa alma, Senhor!
Dulcinéia, emocionada, acaba falando coisas que a mãe jamais gostaria de ouvir.
- Mamãe, encontrou a sua amiga. Vamos orar por ela...
- Minha filha, não fale bobagens! Mirtes está morta! Pelos mortos não podemos fazer nada. Por ele sim... Vamos orar por ele!
Diz isso erguendo as mãos sobre o corpo do professor e se ajoelhando. Dulcinéia faz o mesmo. Ficam as duas por longo tempo assim, imóveis. Em seguida, dona Maria Porém começa a orar em voz alta, dando glórias, aleluias, invocando a cura em nome de Jesus. Sente todo o corpo revestido de um poder sobrenatural. E uma imediata resposta às suas orações chega... Inesperadamente, Felício Galvão se mexe na cama. Um gemido sai de seus lábios.
- Que foi...
- Oh Glórias, Senhor!!! Louvado seja o Teu nome! – profere Maria Porém.
O professor vira-se na cama, abre os olhos e reconhece a copeira.
- Dulcinéia...
- Professor, meus Deus! Levanta dessa cama, professor!
- Que aconteceu?
- Professor, estamos aqui, eu e minha mãe. Levanta dessa cama!
- O acidente...
- Esqueça, professor. Estamos aqui. Eu e minha mãe. A diretora Clarice quer falar com o senhor. Levanta, tome um banho. A vida continua.
Dona Maria Porém não diz mais nada. Permanece calada. Lágrimas de agradecimento banham o seu rosto. Ela sabe que o Senhor é poderoso o bastante e já operou o milagre naquela vida.
Continua...
Veja que o prof. Galvão fez... Não perca o final do Episódio.

E acesse o meu blog de contos/crônicas Na Ponta do Lápis

EPISÓDIO 47 - 1ª parte

CLARICE - o pedido
- Dulcinéia, quero falar com você. Vamos à minha sala!
- Ai, professora Clarice, não fiz nada!
- Dulcinéia, como você consegue andar?
- Eu fiz curso de postura. Agora estou fazendo teatro. – responde envaidecida e dá um passo à frente, girando o corpo. Faz um gesto com o braço direito e sorri adoravelmente. A diretora argumenta:
- Não estou interessada na sua performance. Falo da sua consciência pesada. Você sempre acha que fez alguma coisa errada.
A copeira sente vontade de esganar Clarice. Mesmo assim, encolhe as garras.
Depois de conversar longamente com Dulcinéia, Clarice consegue convencê-la a ir ao hotel onde mora o professor Galvão. Faz mais de dois dias que ele não aparece na escola.

NA RECEPÇÃO DO HOTEL
- Pela entrada de serviços, senhoras, por favor!
- Nós não estamos a serviço, seu mal-educado! Vê se te enxerga!
Dona Maria Porém dá um beliscão no braço da filha.
- Cala a boca, menina!
Elas sobem pelo elevador panorâmico, de onde tem uma belíssima vista da cidade. Quando descem no corredor e chegam na porta do apartamento, ficam indecisas, sem saber como entrar, mas arriscam girar a maçaneta e para surpresa, a porta está aberta.

Vejam na 2ª parte do Episódio 47 o que as duas presenciaram no quarto do professor.