Saturday, July 29, 2006

EPISÓDIO 8


YANA BAHRA
GRAVACAO DE UM VÍDEO PARA UMA ONG BRASILEIRA NUMA PRAÇA DA CIDADE. PALCO INSTALADO, SEMELHANTE A UM CARRO DE SOM. CÂMERAS. FIGURANTES. ATRIZ ENCAPUZADA E USANDO UMA CAPA PRETA QUE LHE COBRE TODO O CORPO. SET PRONTO PARA A GRAVACÃO. DIRETOR - CABELOS DESGRENHADOS CAINDO NO ROSTO, BERMUDA DE BRIM, CHINELOS DE COURO - DANDO AS ORDENS.
- 1, 2, 3... Silêncio! Começar a gravar! Você... chegue mais pra frente. Cadê os cavalos? E os bêbados... os mendigos? ...sai da frente da atriz. Levanta mais a atriz! Cadê as bailarinas? Meu Deus, vou ter um ataque do coração!
Os figurantes começam a se movimentar. Uma mulher da equipe de maquiagem chega atrás de Sérgio, o diretor, para amarrar o cabelo dele.
- Que tá fazendo, maluca? Sai daqui!
E grita para o pessoal do palco:
- Tire o espelho da frente da atriz! Não tô vendo nada... Levante mais a atriz... chegue mais pra frente, Yana... pra frente!!! Tá surda, Yana Bahra!
Furiosa, a atriz vai protestar, mas se contém e vai para o centro do palco, enquanto o diretor berra.
- Você, vestindo essa roupa de mulher... sai fora! Some daí!
- Eu?
- Cai fora! Você é muito ruim!
- Eu fiz teste!
- Você não me convence como travesti... é muito másculo! Some!!!
O ator pula do palco xingando o diretor e desaparece no meio dos curiosos.
- Você também. É muito branca! O vídeo é brasileiro. Brasileiro, entendeu? Você parece uma dinamarquesa! Some daí!
Desapontada, Andie von der Ghlantèe desce do palco e fica no meio da multidão assistindo. Perdeu a sua primeira chance de participar de um trabalho para a TV, mesmo como figurante.
Sérgio vai contornando o palco e bem adiante encontra outro obstáculo.
- Essa outra aí, ei morena... Mulher, por acaso você tem cara de doente pra fazer papel de doente? Chispa também!
- Sem educação! Vem aqui me dizer isto, vem! Te dou um tapa!
Dulcinéia xinga o diretor e desce do palco nas nuvens, sentindo-se como se todas as luzes estivessem focalizando-a. Entretanto, os iluminadores estão ocupados, procurando solucionar um curto-circuito que quase estragou a filmagem.
Quando finalmente resolvem o problema, Dulcinéia, remoendo a sua raiva, já está a caminho de casa.
- Se eu tivesse uma tocha, botava fogo naquele cenário. Queria ver!
Entra no ônibus, pisando alto, reclamando:
- Esses cabecinha branca não pagam passagem e ficam na entrada, atrapalhando a gente!
Um idoso olha para ela e sorrindo aconselha:
- Calma, menina! Um dia você chega lá!
Dulcinéia percebe que foi grosseira, mas de birra não pede desculpas e vai se sentar no banco traseiro.

Continua no EPISÓDIO 9

Tuesday, July 25, 2006

EPISÓDIO 7

DULCINÉIA – a sonhadora
Final

No final do expediente, Dulcinéia voltou para casa num ônibus coletivo abarrotado, mas estava feliz por não ter engrossado a fila dos desempregados. Mais feliz ainda pela expectativa de ver as suas novelas. E assim, já bem tarde, quando desligou a TV, deitou-se na sua cama de casal, preparando-se para a sua merecida noite de sono. Lentamente seus olhos foram se fechando, enquanto um sorriso ia se espalhando pelos lábios. Ela adormeceu e os sonhos povoaram a sua mente.

Um homem alto, corpo atlético e pele bronzeada de sol, olhos castanhos e cabelos longos, desgrenhados pelo vento, aproximava-se do castelo num cavalo branco. Ele usava uma calça larga de algodão cru, presa no tornozelo e uma faixa longa e branca na cintura. Nada mais.
Ouvindo os cascos do animal ao longe, Dulcinéia aguçava os ouvidos. O som ia chegando mais perto. Ela saía da cama e abria a janela do quarto.
Galopando, o cavaleiro de cabelos ao vento avançava, apressado em chegar.
Fazia calor. Dulcinéia vestia o hobby de rendas e saía para a varanda. Sua pele morena fazia contraste com o branco do tecido das roupas.
O rapaz já estava na frente do castelo. Ao vê-la sob o luar, com aquelas roupas esvoaçantes, olhava-a longa e apaixonadamente nos olhos.
Ela estremecia. O rapaz não conseguia desprender o olhar do seu rosto, fascinado por sua beleza. E fitando-a, ele desatava a faixa e jogava-a ao vento. Dulcinéia estremecia. Sentia que iria desfalecer. O rapaz empinava o peito musculoso. E o cavalo, trotando, aproxima-se da varanda.
No céu a lua se exibia, testemunhando a cumplicidade daquele amor.
E de repente, num passe de mágica, aquele homem de olhos castanhos, montado num cavalo branco, roubava-a, como antigamente. E juntos iam para bem longe, a caminho da felicidade.

Ela acordava no dia seguinte pensando no sonho, tonta de felicidade. Escancarava a janela do quarto. Ao longe, os primeiros raios de sol começavam a riscar o horizonte, rompendo as brumas.
Sorridente, Dulcinéia declamava:
- Branca manhã, como és bela!
Os braços se abriam e as mãos esticavam num gesto de bailado. Voltava dançando para o interior do quarto e consultava o espelho.
- Meu espelho, diga-me que o meu amor vai chegar hoje. Diga-me e serei a mulher mais feliz do mundo!
Implorava e parava para ouvir a voz do espelho. O silencio era interrompido somente pelo barulho dos ônibus coletivos que começavam a circular, anunciando mais um dia de trabalho.

E não perca o Episódio 8. A história se passa num set. E o que rolou durante as filmagens...
Enquanto você espera, leia meu outro blog: Na Ponta do Lápis.

Thursday, July 20, 2006

EPISÓDIO 6


DULCINÉIA – a sonhadora
Dulcinéia, a copeira da escola onde trabalhava o renomado professor Galvão, 25 anos, cabelos longos e negros, tinha uma grande paixão: as novelas. E seu dia-a-dia dependia do que os autores iriam reservar de surpresa a cada capítulo. Ela vivia as situações, os romances e até assumia a personalidade dos artistas. Falava com propriedade da vida de cada um, como se fosse a sua, mas no fundo, Dulcinéia sonhava com um grande amor. Sonhava que algum dia um homem maravilhoso iria chegar, abraçá-la com carinho e sussurrar no seu ouvido aquela frase que já foi sussurrada 23.947.216 vezes nas novelas.
- “Eu nunca senti por mulher nenhuma o que estou sentindo por você. Eu te amo, Dulcinéia.”
Foi o professor Galvão que arranjara aquele emprego na escola para ela há quatro anos. E naquele estabelecimento, ela conquistou da simpatia de todos, principalmente dos alunos, que a adoravam. Daí a confusão que aprontou com Andie von der Ghlantèe, pensando que a lourinha fosse alguma top model e que os meninos adorariam conhecê-la.

Dulcinéia levou um susto no dia seguinte, quando recebeu um comunicado para comparecer à diretoria da escola. Ela chegou cabisbaixa, empurrou lentamente a porta e entrou. Uma mulher loura, vestida como se estivesse pronta para levantar-se da cadeira e sair diretamente para uma festa, começou a dizer.
- Dulcinéia...
- Professora Clarice, desculpe o que aconteceu!
- Deixe-me terminar, por favor!
A elegante diretora, com um gesto, convidou Dulcinéia para se sentar.
- O que passou por sua cabeça quando arrebanhou todo o colégio pra aprontar aquela confusão ?
- Senhora, a lourinha parecia tanto com a...
- Isto não justifica o que você fez, Dulcinéia!
A copeira começou a chorar baixinho, sem vontade, querendo fazer uma cena. E através das lágrimas, vislumbrou o rosto da diretora. Nenhuma emoção foi encontrada ali. Ela pensou, imaginando-se vista por cerca de 70 milhões de telespectadores:
- Essa cascavel vai me demitir! Logo eu, que preciso tanto deste emprego! Até parece aquela tal, daquela empresa, daquela novela, que acha que pode mandar em todo mundo.
Recolhendo uns CDs espalhados pela mesa, a diretora advertiu:
- Que isto não aconteça nunca mais, Dulcinéia!
- Tá certo, senhora! Vou pro Departamento Pessoal!
- Você trabalha lá agora?
- A senhora não deixou claro que vai me demitir? – disse a frase saboreando cada palavra, imaginando-se diante de uma câmera de TV.
- Demitir? Dulcinéia, você acha que nasci ontem? O colégio inteiro te adora! Imagina se vou “dar carne pro gato!”
Dulcinéia sorriu intimamente, imaginando-se uma daquelas personagens de novela que jamais diria o chavão que a diretora falou.
Clarice terminou de organizar a mesa, pedindo:
- Quero que sirva uns petiscos com caviar para uma pessoa lá do Senado que vem visitar o colégio. E vê se não confunde o homem com nenhum dos envolvidos em escândalos, senão você é capaz de chamar a Polícia Federal.

Continua no EPISÓDIO 7

Wednesday, July 19, 2006

RESUMO DOS EPISÓDIOS 1 a 5

EPISÓDIO 1
Policiais federais dão uma “batida” num trem que atravessava a fronteira austro-húngara.
A lourinha Andie von der Ghlantèe estava no trem.

EPISÓDIO 2
A vida do renomado professor Felício Galvão na Itália com seus pais adotivos Antonioni e Pietra.
A namorada. A morte dos pais.
A volta para o Brasil e sua ascensão no colégio, a ponto de tornar-se o braço direito da diretora Clarice.

EPISÓDIOS 3, 4 e 5
Andie vai ao colégio onde trabalha o professor Galvão e sua passagem causa sensação por lá.
Coisas estranhas acontecem na escola.
Dulcinéia aparece pela primeira vez na trama.

Conheça meu blog de contos/crônicas: Na Ponta do Lápis

Thursday, July 13, 2006

EPISÓDIO 5

ANDIE – a confusão
Final
Em seguida, ouviu-se um estrondo não se sabe vindo de onde e o painel se apagou por completo. Indiferentes aos avisos, alunos saíam correndo das salas. E em vão, professores tentavam conter a multidão de adolescentes que avançava enlouquecida corredor afora.
Andie, sem entender o que estava acontecendo, encostou-se na parede procurando se proteger.
- Meu Deus! O que é isso?
Os adolescentes avançavam na sua direção, acenando cadernos, mochilas, pedaços de papel, camisetas e gritando freneticamente.
- É ela... é ela...
Andie se apavorou. Arrancou rapidamente as sandálias de saltos altos e saiu correndo. A multidão avançava rápida. Quanto mais ela corria, percebia que mais portas iam se abrindo e o número de adolescentes crescia cada vez mais atrás de si.
Andie viu uma porta larga, semelhante a uma porta blindada. Rapidamente, ela empurrou-a e entrou. Era a biblioteca. A lourinha correu ofegando pelos corredores de prateleiras. O tapete macio acolheu seus pés vermelhos e doídos pela compressão contra o piso frio dos corredores.
Num canto, havia uma pilha de livros que ainda iriam ser catalogados. Ela correu e se escondeu atrás dos livros, no exato momento em que a gritaria invadiu a biblioteca.
Andie tremia. Os adolescentes se aproximaram, fazendo um círculo em volta dela. Os olhos azuis transparentes da lourinha fecharam-se de pavor, ao mesmo tempo em que ouviu uma voz quase junto de si.
- ... seu autógrafo...
Andie abriu os olhos, agora cinza de surpresa. Ergueu a cabeça. Deixou o rosto à vista. O menino recuou surpreso. Ela se viu frente a frente com a biblioteca abarrotada de barulhentos estudantes. E uma voz meio decepcionada condenar:
- Dulcinéia pisou na bola! Essa pode ser do Rio Grande do Sul, mas não é ela!
Foi então que Andie compreendeu tudo. Levantou-se, sorriu para os estudantes. No mesmo instante, seus olhos, azuis como o infinito, enxergaram o renomado professor abrindo caminho na multidão.
- Andie, que confusão que a copeira provocou!
Vinda de trás de uma prateleira de livros, uma voz aborrecida retrucou:
- Eu? O senhor mesmo disse: “É do Sul... Globo.... Acho até que ouvi Nova Yorque”.
Limpando os olhos com um lenço, Dulcinéia saiu detrás da prateleira.
– Agora vai querer botar a culpa em mim? Logo eu, que deveria estar em casa de licença médica? Fui ao oftalmologista há pouco e ele pingou nos meus olhos um colírio que mais parecia pimenta...
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Tuesday, July 11, 2006

EPISÓDIO 4


ANDIE - a confusão
1ª parte

O renomado professor Galvão saiu apressadamente da secretaria após entregar o endereço da emissora de TV para Andie, ao mesmo tempo em que Dulcinéia, a copeira, entrava com uma enorme bandeja. Houve uma colisão. A bandeja voou longe. E o barulho do aço inoxidável contra o piso propagou pelos ares.
Andie abaixou-se para ajudar o professor a apanhar os utensílios, quando percebeu que a copeira olhava-a de uma maneira estranha. E fazendo gestos, chamava o professor.
- Quem é? – perguntou, limpando os olhos com um lenço.
O PhD respondeu sorrindo.
- A lourinha? É do Sul. Dei o endereço da Globo...
Dulcinéia nem o esperou completar a frase e saiu correndo. Andie achou aquilo estranho, mas continuou abaixada, ajudando o professor. As correntes da calça de cintura baixa arrastavam pelo chão, fazendo um barulho engraçado.
Ao terminar de recolher tudo, ela colocou a bandeja sobre o balcão da secretaria. O professor agradeceu, pediu desculpas e se dirigiu para o laboratório. Andie foi andando lentamente para a saída, mas decidiu antes entrar no toilette.
Ela passou um pouco de batom. Colocou uns brinquinhos em forma de bulbo que comprara de um cigano tcheco em Budapest e óculos escuros. Quando saiu, o painel eletrônico do colégio chamou a sua atenção. Ela ficou igual a uma criança, olhando deslumbrada para aquelas letrinhas pontilhas de vermelho, caindo como cascata e deslizando horizontalmente para completar as palavras, quando leu o finalzinho de uma frase:
... está aqui no colégio.
No mesmo instante, ouviu-se um barulho de vozes e um corre-corre de alunos vindo dos fundos do corredor. Dulcinéia, a copeira, vinha à frente, gritando e gesticulando:
- É ela! Corre... É ela! Corre...
Uma voz eletrônica soou por todo o colégio.
- Atenção, alunos! Atenção! Voltem pras suas salas!
Em seguida ouviu-se um estrondo não se sabe vindo de onde e...

Continua no EPISÓDIO 5
E não deixe de conhecer - Na Ponta do Lápis

Wednesday, July 05, 2006

EPISÓDIO 3

ANDIE – a lourinha
Uma garota de cabelos louríssimos, presos na nuca, olhos quase transparentes de tão azuis, cheia de correntes no jeans cintura baixa e nos pulsos, blusa muito alta (aliás, não se sabe se ela esqueceu de colocar a blusa, ou o quê) passa pelos corredores da escola em direção da secretaria. E sua passagem causa reboliço nos alunos por tudo isso que vocês estão vendo e também pelo barulho do atrito que o amontoado de correntes faz, em sincronia com o som do saldo alto da sandália.
Ao chegar na secretaria, bate levemente no vidro que faz divisória entre os funcionários e os alunos. Sabem quem estava ali? O renomado professor Galvão.
- Bitte sehr! - disse ele.
- Hum?
- Can I help you?
- O sr. disse mesmo o quê?
- Ah! desculpe, pensei que você fosse estrangeira. Seu nome?
- Andie von der Ghlantèe. Fiquei sabendo que aqui tem uma boca...
- Aqui temos mais de 2800 bocas, lourinha, incluindo a minha.
Ela sorri, mostrando dentes esculpidos, de tão perfeitos que são.
- Desculpe, senhor! Fiquei sabendo que aqui tem uma vaga pra trabalhar na secretaria.
- Quem trabalha em secretaria de escola tem que mostrar serviço. Dar duro mesmo!
- Como?
- Trabalhar demais.
- O sr. está querendo me assustar?
- Sério. Até eu estou aqui dando uma força. Diga, como ficou sabendo da vaga?
- Tenho uma amiga que estuda aqui. Tina, filha de um Ministro.
- De onde você é?
- Blumenau. Mas agora estou morando num flat em Balneário Camboriú. Perto da praia do Pinho.
Contou, como se falasse para uma pessoa que conheça Santa Catarina. Como ele já está se sentindo muito à vontade com a lourinha, apesar do barulho das correntes que ela faz quando gesticula, arrisca:
- Você deve gostar do Oktoberfest.
- Prof. pra dizer a verdade, odeio aquele auê. Quando aquilo começa, desço pra Buenos Aires.
- Desce?
- É! Pego um avião, passo a noite lá e depois sigo pro Chile, onde um amigo político tem um chalé nas imediações da Cordilheira dos Andes.
- Amigo político ou político amigo?

O celular da garota tocou, o que a impediu de responder. O renomado professor observa-a atender. É um celular que até filma. Acreditem! Quando ela termina de falar, sorri encantadoramente para o professor com aqueles dentes esculpidos. Seus olhos brilham, como se quisessem ultrapassá-lo. Por um momento, ele sente um calafrio, entretanto se controla e continua a conversa.
- O emprego aqui não é grande coisa, para uma menina como você!
- Prof., pego qualquer coisa!
- Por que não pede pro seu amigo político conseguir uma boquinha pra você?
- Não dá! Ele está envolvido com esse negócio de CPI. Passa o tempo todo na ponte-aérea Santiago-Brasília.
O celular do professor tocou. Ele pede licença, vira-lhe as costas e atende. Depois, sorrindo amável, diz à lourinha.
- Sinto ter que interromper o nosso papo. Tenho que ir ao laboratório dar assistência aos alunos. Mas, pra ser sincero, continuo achando que o emprego aqui não serve pra você!
- Serve sim, pode crê!
- Andie, vou te dar um endereço de um lugar onde sei que você vai conseguir alguma coisa.
Ele vira-lhe as costas novamente. Pega um pedaço de papel e escreve o endereço. Entrega à garota. Ela arregala os olhos transparentes. Fita-o demoradamente. O phD estremece outra vez, mas logo é despertado pela voz aveludada da menina.
- Prof. que endereço é este? O que é RGT?
- É uma emissora de TV. Ouvi dizer que estão precisando ilustrar um conto de fadas. E você é tudo o que eles querem. Até no nome!

Nota:
Fiz essa foto durante minha tour à Serra Gaúcha. O monumento aqui, localizado em Canela, é o Castelinho Caracol, marco da colonização alemã. Hoje funciona como museu e casa de chá.

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Tuesday, July 04, 2006

EPISÓDIO 2


O RENOMADO PROFESSOR GALVÃO
Bolsa de estudos, essa foi mais uma conquista que Felício Galvão conseguiu para os empregados. O professor tinha sempre boa vontade com tudo que se propusesse a fazer. Por isso acabou sendo o braço direito da diretora Clarice. Todas as decisões eram tomadas por ele. Ficou tão envolvido com os assuntos da escola, que Clarice decidiu que ele só daria aulas de Cultura Geral para suprir a falta de algum colega.
Felício Galvão era uma pessoa de uma cultura ilimitada, embora não tivesse nascido em berço de ouro. Nasceu pobre, filho de mãe solteira, que morreu ao dar à luz. Parentes ele não tinha, por isso foi parar numa instituição de caridade, o que felizmente durou pouco tempo.

Num inverno, um casal de italianos veio ao Brasil e programou visitas às instituições de caridade para distribuir cobertores para as crianças. Ao passarem pelo berçário, viram Felício balbuciando algo. Foi amor à primeira vista. A esposa, Pietra, fez uma carícia no rostinho da criança. O bebê agarrou o seu dedo e pelo jeito o segurou por muitos e muitos anos, pois Pietra, que não tinha filhos, olhou para Antonioni e com voz abafada de emoção, decidiu:
- Esta criança é nossa! Vamos levá-la pra Itália!
O marido gesticulou muito, querendo contestar. Por fim acabou concordando. E resolvida a burocracia da papelada de adoção, o bebê embarcou com o casal. Recebeu uma educação de príncipe. Estudou na Suíça e na França. E teve os melhores professores particulares também. Viajou por toda Europa e fez intercâmbios. Embora estudasse na Suíça, estava sempre com os pais, os quais moravam numa cidadezinha a duas hora do outro país.
Pietra percebeu que o rapaz possuía um talento nato para a aprendizagem de línguas e investiu pesado nisto. Possuía também um espírito imbatível de liderança, além de ser muito econômico.

Infelizmente, quando Felício fez 22 anos, perdeu os pais adotivos num acidente de carro. Como vinha sempre ao Brasil, por causa da namorada, resolveu vender quase tudo na Itália e se mudar para cá. O namoro acabou. Ele começou a trabalhar nesse colégio, onde organizou o Centro de Línguas, hoje referência nacional.
Ele foi, aos poucos, conquistando a simpatia de todos, embora tivesse uma postura rigorosa diante das decisões.
Felício Galvão é acima de tudo uma pessoa íntegra, carismática. Hoje, aos 32 anos, é o professor mais respeitado e admirado da escola.