Sunday, October 29, 2006

EPISÓDIO 27 - 1ª parte

ENQUANTO DULCINÉIA CHORAVA NOS BRAÇOS DA MÃE POR TER PERDIDO O ENCONTRO COM CAIO E TINA ESTAVA SENDO SEQÜESTRADA, VEJA O QUE ACONTECIA NUM OUTRO BAIRRO DA CIDADE.
NO SALÃO DA JÔ
1ª parte
O rapaz estava sentado num canto lendo uma revista de modas. Sua colega, do outro lado, lixava as unhas. Ambos sem nada pra fazer, quando a porta foi empurrada e adentrou o recinto uma mulher, cabelos desgrenhados, trajando uma saia de tecido barato e camiseta de propaganda de banco.
O rapaz, com voz naturalmente afetada, se apressou:
- Posso ajudar?
- Eu vinha andando, tropecei num buraco da calçada e minha sandália arrebentou a correia.
Gesticulando, agora sem encará-la, o rapaz disse impaciente.
- Aqui é um salão de beleza, meu bem!
A mulher, humildemente, esclareceu:
- Falei bobagem. O que quero é mudar a cor dos meus cabelos. Pra louro! E cortar um pouco as pontas!
Aí o rapaz, ajeitando os colares que adornavam o pescoço até à cintura, encarou-a. Em seguida, voltou-se para a colega que ainda lixava as unhas.
- Jô!
Jô olhou-o com cumplicidade. Depois disse à mulher:
- Senta aqui!
A mulher, arrastando a sandália arrebentada, sentou-se.
- Louro? Seu cabelo foi tingido recentemente. Não podemos descolorir agora!
- Que pena! Eu queria tanto fazer uma surpresa para o meu marido!
Disse fitando o rapaz através do espelho, o qual continuava folheando a revista sem lhe dar atenção. A mulher observava os seus cabelos mal tingidos e empastados de gel, quando a voz da cabeleireira desviou a sua atenção.
- Vamos tentar outra cor? Quem sabe caju, avermelhado... Não prometo milagres!
Ouvindo a sugestão, o rapaz levantou-se, colocou as mãos na cintura, girou sobre os calcanhares e censurou:
- Jô, você não disse a ela o preço!
A mulher, com voz humilde, retrucou.
- Preço não tem problema! Saí do emprego. Recebi meu FGTS. Acho que dá pra pagar!
NA CLÍNICA
A secretária estava na recepção lendo uma revista de esportes quando soou a campainha, anunciando a entrada de alguém. Apareceu uma mulher ruiva, trajando um vestido floral de alcinhas, brincos de argolas, anéis caros e pulseiras. Foi logo dizendo:
- Quero uma consulta com o oftalmologista agora!
- Está agendada, senhora?
- Estou! Veja!
A mulher abriu a bolsa e retirou um maço de dólares que manteve discretamente escondido sob a mão, de maneira que somente as duas pudessem ver.
Meio indecisa, a moça disse:
- Vou ver o que posso fazer. Pode esperar o paciente sair?
Com voz excessivamente amável, a mulher tranqüilizou-a:
- Claro, querida! O tempo que você quiser!
NA ÓPTICA
O balconista estava atendendo um cliente quando uma mulher ruiva, elegantemente vestida com um jeans meia-canela, bordado de pedraria na cintura, blusa de linha verde-cana, a qual delineava sensualmente os seios, brincos de argolas, anéis caros e pulseiras, entrou na ótica. Ele sorriu e pediu para que ela aguardasse um instante. A elegante senhora sentou-se, cruzou as pernas e mirou-se no espelho, olhando satisfeita para a cor dos cabelos tingidos no Salão da Jô.
Finalizado o atendimento, o balconista se prontificou:
- Pois não madame!
A ruiva levantou-se. Puxou a blusa para não deixar à vista a cintura. Rebolando, deu três passos e ficou frente a frente com o rapaz. Com um simpático sorriso, entregou a ele a receita oftalmológica, o qual, brincando, comentou:
- Agora é moda! Todas querem olhos verdes, azuis. Ainda bem que lentes de contatos podem fazer isso!
A ruiva sentiu vontade de estraçalhar o rapaz, mas limitou-se a sorrir, querendo confirmação:
- Você acha que combina com a cor dos meus cabelos? Quero parecer uma outra mulher!
- Certamente! Esses olhos castanho-mel com o tom do verde da lente.. nossa, vai ficar incrível!
A mulher sorriu, continuou conversando com o rapaz, experimentou as lentes, olhou-se no espelho. Aprovou o que viu. O balconista tinha razão. Os cabelos avermelhados, mais curtos, em contraste com os olhos verdes deram à Júlia a beleza digna de se passar por uma outra pessoa.
E era exatamente o que ela queria, depois do acidente no Galeria, em que um ataque fulminante acabou com a carreira de detetive do alemão.
Agora veja o desfecho de tudo isso na 2ª parte do Episódio.

Friday, October 20, 2006

EPISÓDIO 26 - final

TINA – o sufoco, o segredo...
final

- Socorro! – gritou a garota.
- Calma! Acha que vou cortar a sua garganta? Não gosto de ver sangue, bichinha! – esclareceu o homem, com um sotaque de estrangeiro que aprendeu o português no Nordeste.
- Que vai fazer então?
- Quero saber onde você conseguiu esse diamante aí no seu cabelo. Em Budapest?
- Era só o que faltava! Posso comprar milhares desses – disse com arrogância – sou rica, tá sabendo? Posso comprar quantos quiser! E se quiser ir pra Europa agora, vou!
A mulher de voz impostada soltou outra gargalha.
- Hum... ela é bem metidinha! Agora? Agora te garanto que você não vai a lugar nenhum!
Tina se calou, assustada. A mulher encapuzada, alta e magra, de corpo escultural, segurava na mão direita uma arma e na esquerda uma bengala, na qual se apoiava para andar. E andando e mancando pela sala, depois de longo tempo pensativa, concluiu:
- Periquito, a patricinha não deve saber de nada mesmo! Acho que pegamos a pessoa errada!
No mesmo instante uma voz saiu de trás de uma porta semi-aberta, espalhando terror pela sala.
- Cometeram outro erro, cambada! Solte a patricinha e seu motorista. E bem longe daqui. Só espero que eles não tenham visto as suas caras. Incompetentes!
- Mas Pássaro... chefe...
- Nada de mas... Arranque o diamante do cabelo dela e solte-a!
O homem encapuzado, que falava com sotaque, deu um salto e ficou na frente de Tina. Agarrou todo o seu cabelo. Pássaro ordenou lá da outra sala.
- Não precisa cortar todo o cabelo não, idiota! Só a trancinha com o diamante!
Porém o homem de sotaque estrangeiro agarrou uma mecha e passou rapidamente a faca. E outra vez a voz de Pássaro soou pela sala, dirigindo-se à mulher.
- Jandaia, vou ligar pra Beija-flor buscar vocês. Amarrem a garota. Tire o motorista do porta-malas e deixe os dois na estrada.

Dito e feito. Tina e o motorista foram deixados num matagal, num lugar ermo e frio, onde não passava ninguém. Passaram a noite ali, tentando libertar um ao outro.

Ao chegar em casa no dia seguinte, Tina deu graças a Deus por sua mãe estar fora, o que a evitava dar explicações por ter passou a noite fora. Decidiu não contar nada aos pais e ameaçou dispensar o motorista se ele abrisse a boca. Se os pais ficassem sabendo, aí sim é que ela perderia a liberdade. Caindo de sono, ela se enfiou debaixo das cobertas. Entretanto, Pedro Henrique entrou sorrateiramente no quarto. Viu a menina com o cabelo tosquiado e caiu na risada, saindo pé ante pé.
Contudo, a história de seqüestro ficou em segredo.
FIM
Ela está de volta. Linda, deslumbrante, cheia de mistérios... E Na Ponta do Lápis, Bodas de Fôlego. Vamos comemorar?

EPISÓDIO 26 - 1ª parte

ENQUANTO DULCINÉIA CHORAVA NOS BRAÇOS DE D. MARIA PORÉM, VEJAM O QUE ACONTECIA NA SAÍDA DO COLÉGIO.

T I N A – o sufoco, o segredo.
O sinal eletrônico soou, anunciando mais um fim do turno escolar. Tina se dirigiu para o estacionamento onde o motorista já estava esperando. A menina entrou rapidamente e ordenou:
- Pro Galeria!
- Gosta de lugares fechados, gatinha?
Tina estranhou a voz. Olhou na direção. Viu ao volante um homem encapuzado. No banco traseiro havia uma outra pessoa com o rosto completamente coberto, a qual ela não notou quando entrou apressada. Tina tentou fugir, mas o carro já estava em movimento e a pessoa ao seu lado falou com uma voz tão impostada que a surpreendeu. Mesmo ela percebendo que era uma mulher, a voz parecia de homem:
- Vamos levá-la a um lugar bem fechado! Você vai ver!
Tina estremeceu, mas tentando demonstrar coragem, quis saber.
- Onde?
- Você verá!
E o motorista pisou fundo no acelerador. A garota fez menção de abrir a porta. A mulher ao seu lado virou-se, apontando-lhe uma arma.
- Se mexer essa mãozinha, já sabe o que te acontece!
Tina começou a suar. Olhou para a mulher e viu um par de olhos azuis, infinitos, fitando-a como fossem um radar. Sentiu medo. Mesmo assim, quis saber.
- Cadê o meu motorista?
- Tá repousando no porta-malas. Quer ficar com ele?
- Vocês o mataram?
- Que acha?
E a mulher soltou uma máscula gargalhada.

Depois de rodar vários quilômetros, chegaram a um lugar que Tina não saberia dizer onde era, porque a mulher de voz impostada tinha colocado uma venda em seus olhos.
Entraram os três numa casa abandonada. Fizeram-na sentar. Passado alguns instantes, tiraram-lhe a venda. Tina arregalou os olhos quando viu o motorista encapuzado, com uma faca na mão, vindo ameaçador na direção dela.

Continua no EPISÓDIO 26 - final
Enquanto isso, Na Ponta do Lápis

EPISÓDIO 25 - final

OLHOS NEGROS – apaixonados
Final


Dulcinéia abriu a porta da sala intempestivamente. Como sempre, dona Maria Porém, àquela hora da tarde, estava de joelhos orando. Dulcinéia caiu de joelhos também, abraçando-a, apertando-a, chorando sem parar. A saia curta subia mais e mais, deixando as pernas bronzeadas à vista. A mãe, preocupada, fechou a Bíblia, ao mesmo tempo que tentava cobrir a nudez da filha.
- Meu Deus, o que aconteceu?
- Mamãe, sou tão infeliz...
- Não diga isto, Dulcinéia. Evite essa palavra! Jesus te ama!
- Eu sei, mamãe!
- Vamos orar, nós duas. Deus vai tocar o seu coração!
- Não consigo, mamãe! Oh! meu Jesus! – exagerou um pouco ao clamar pelo Senhor, querendo comover a mãe.
- Consegue sim! Vamos?
Sem dar importância ao convite, ela se levantou, sendo acompanhada pela mãe. Sentaram num dos sofás da sala. Dulcinéia, com a cabeça apoiada no colo de dona Maria Porém, contou que conhecera o motorista, que estava apaixonada e que não podia mais viver sem aquele amor.
A mãe ouviu tudo sem dizer uma palavra sequer para em seguida determinar.
- Minha filha, vamos orar! Nós duas! O Senhor vai tocar o seu coração!
Dulcinéia chorou ainda mais, no colo da mãe. Dona Maria Porém impôs as mãos sobre a sua cabeça e fechou os olhos. Ficaram longo tempo ali, as duas, abraçadas.
De repente ela se ergueu, afastou os cabelos negros das faces, olhou fixamente para o rosto da mãe, como se buscasse ali uma solução. E com olhos imersos em lágrimas, disse esperançosa.
- Mamãe, estou melhor... ainda temos a segunda-feira, né?

O ônibus veio reduzindo a marcha e parou na estação. A fila começou a se movimentar para o embarque. Caio, ao volante, olhava sorridente para cada passageiro, sempre acenando com a cabeça. Seus olhos negros procuravam alguém. As pessoas foram aos poucos lotando o coletivo. Quando o último passageiro entrou, não havia mais expectativa naquele sorriso de dar prejuízo ao dentista. Ele deu partida no ônibus, lentamente, pensativo.
Naquela viagem de volta para o bairro, estava faltando alguém.

Um dia é da caça. Outro é do caçador. Você nem imagina o que aconteceu com Tina. Melhor não perder o próximo Episódio: TINA - o sufoco, o segredo.
Enquanto isso, Na Ponta do Lápis

EPISÓDIO 25 - 2ª parte

OLHOS NEGROS – apaixonados
2ª parte

Envergonhada, Dulcinéia foi saindo. No corredor, o renomado professor esperava por ela.
- O que estava fazendo aí, Dulcinéia? – perguntou impaciente.
- Professor, não tive culpa!
- De que?
- A bolinha de pingue-pongue do KK no corredor...
- Peraí. Que bolinha? Quero saber desta história direitinho!
Dulcinéia percebeu que se traiu, que havia caído na própria armadilha. E teve que contar ao professor Galvão todo o plano bolado pra chegar perto do motorista na fila dos bolsistas. O PhD, abafando uma risada, encerrou a conversa dizendo:
- Depois cuido de KK e Tiago. Agora quero que você vá à papelaria e encomende esse material aqui da lista. Depois você pode ir pra sua casa!
Dulcinéia olhou as horas e levou um susto. Eram 2h25min. Era a sexta-feira que Caio disse pra ela não perder o ônibus.
- Professor, não posso sair!
- Como não? Não é você que gosta de sair mais cedo por causa dos ônibus lotados? – falou, segurando a risada que ele gostaria de ter soltado ao ouvir a história da bolinha.
- É, mas hoje...
- Está aqui a lista! Bom fim de semana! E não chegue atrasada na segunda-feira – finalizou, esticando a mão para Dulcinéia, que a tocou levemente. Em seguida, o professor Galvão saiu. O jaleco branco tremulava com o ritmo dos passos apressados daquele homem alto e magro.
Dulcinéia não pôde argumentar nada. Correu para o vestiário e chorou baixinho, lágrimas sentidas, de coração mesmo.
- O que vou fazer na rua até a hora do Caio passar? Logo hoje, que tudo ia dar certo. Odeio esse professor!
No vestiário, com os olhos banhados de lágrimas, ela olhou para a janela. Uma roseira florida roçavam a vidraça, como se estivesse querendo entrar pela janela. Dulcinéia, irritada, fechou a persiana e gritou:
- Estragou tudo. Agora... agora... – e caiu em prantos novamente.
CONTINUA...
No próximo Episódio, uma participação comovente de Dona Maria Porém, a mãe de Dulcinéia. Não perca!

EPISÓDIO 25 - 1ª parte

OLHOS NEGROS, apaixonados!
1ª parte

O renomado professor vinha andando a passos largos pelo corredor com os braços abarrotados de livros, quando cruzou com uma aluna.
- Nossa, professor, quanto livro!
- É preciso ler muito para preparar as aulas, ficar informado...
- O sr. gastou uma grana com tudo isso!
- Gastei nada! A gente ganha das editoras. É cortesia!
- Então eu também quero. Como faço pra receber?
- Primeiramente, você tem que ser professora. De que turma você é?
- Terceiro...
- Então falta pouco. Quando entrar pra faculdade, cursar uns quatro anos...
- Menos, professor, menos!
- Falo sério!
- Qual é, professor?
- Sério!
- O sr. não disse que os livros são de graça?
- E são!
- Grátis coisa nenhuma, xará! Quatro anos de faculdade custam muito!

A aluna entrou no laboratório de química e Felício continuou andando, quando viu a copeira cruzando o corredor.
- Dulcinéia!
Ao ouvi-lo, ela acelerou os passos, virou à esquerda no corredor, empurrou a primeira porta que viu e entrou na sala. Lá dentro o silêncio era absoluto. Dulcinéia deparou com umas pessoas de roupa branca, sentadas em círculo, todas de olhos fechados, pernas e braços cruzadas. Ela se deu conta do engano, fez meia volta e ia saindo pé ante pé, quando ouviu um grito, seguido de uma gargalhada. Tina, a filha do ministro, foi a primeira a vê-la e não se conteve. Dulcinéia experimentou a sensação de mais de vinte e seis pares de olhos cravados nela, para depois ouvir a explosão de sonoras gargalhadas e dedos que apontavam na sua direção. Antes que se recuperasse da surpresa, uma jovem magrinha, de rabo-de-cavalo, que estava à frente do grupo, levantou-se de um salto e argumentou:
- Você não podia ter entrado aqui. Não viu a placa lá fora?
- Desculpe, professora. Eu estava fugindo! – cochichou.
- Fugindo de quê? Pode-se saber?
- Deixa pra lá!
- Quer fazer a gentileza de se retirar? Veja o que você fez! Interrompeu a aula de Meditação! – disse a professora, mostrando a ela a porta e apertando o laço do roupão branco.
Em seguida, batendo palmas, gritou:
- Silêncio!
Os alunos, entretanto, não paravam de rir. E Tina, enrolando com o dedo a trancinha na qual pendia um diamante, rolava pelo chão, sem conseguir se controlar.
Dulcinéia sentiu raiva dela.
- Logo essa creTina, amiga da tal de Andie, foi ver meu fora! Bem que um pivete podia cortar essa trancinha dela e levar o diamante. Seria bem feito! Mas a patricinha tem um motorista-segurança que vem pegá-la na porta da escola.
Cogitou mandar seqüestrar o motorista de Tina, pra menina ter que atravessar o centro da cidade e pegar um coletivo. Entretanto chegou à conclusão de que ela pegaria um táxi no estacionamento do colégio. E concluiu também que esse seu plano era outra roubada.
A professora, vendo-a ali, com a bandeja na mão, sem se mover, convidou rispidamente.
- Por favor...
Envergonhada, Dulcinéia foi saindo. No corredor,...

CONTINUA

EPISÓDIO 24 - final

A TRAIÇÃO
– final
Assim que Selma vai embora, sai de uma joalheria um executivo, alto e louro, olhos e terno pretos. O rapaz se dirige para a mesa onde Júlia está. Ela sorri alegremente, erguendo o queixo e sacudindo os cabelos.
Ele se aproxima. E sem dizer nada, senta-se, esticando a mão na direção de Júlia. Uma mão tão pequena que chega a ser desproporcional para o seu tamanho. Ela, fitando-o nos olhos, aperta-a com força. Em seguida, fala em alemão:
- Tava sumido! Já sei, na Hungria!
- Sim... Continuo investigando o caso!
Júlia, observando as modelos que desfilam na Gospel Butik à sua frente, procura saber.
- Alguma pista dos ladrões?
- Muitas! Já estamos quase pondo as mãos neles.
- Tomara... – fala distraída, bastante interessada no desfile, onde as modelos exibem roupas exclusivamente para mulheres evangélicas.
- Houve um roubo naquela joalheria – o executivo aponta para trás – mas, aparentemente, os ladrões não têm conexão com Budapest. Ficou sabendo?
- Não... eu estava em casa, com dor de cabeça. Acho que tomei sol demais na piscina! – mente e desvia o olhar, acenando para umas crianças que saem às toneladas dos cinemas.
Embora queira saber mais detalhes, ela se cala, não desejando demonstrar muito interesse no caso.
O alemão, observando-a meio alheia à conversa, sugere.
- Vamos? Só temos hoje. Amanhã retorno para Budapest!
Ele se levanta, mas volta a se sentar apressadamente, fazendo uma careta de dor. Seu corpo magro arqueia-se e a testa cai pesadamente sobre a mesa. Júlia se assusta. Toca o seu braço e percebe que o homem não reage. Toca o pulso e não o sente também. Por fim, tenta abrir a sua mão e sente a resistência dos dedos fechados.
Olha apavorada para todos os lados. Aparentemente ninguém está prestando atenção nos dois. É dia de festa para a criançada no Galeria e todos estão envolvidos nas atividades. Júlia percebe que não tem mais nada a fazer ali.
No mesmo instante, o bar é invadido por aplausos que vêm da Gospel Butik, ao mesmo tempo em que as crianças, numa gritaria, correm ao encontro de palhaços que distribuem balões coloridos e bombons, num palco montado na área descoberta do Galeria. Numa rua lateral do shopping ouve-se uma freada brusca, seguida do barulho de lataria de carros que se chocavam. E escondendo o rosto ensangüentado, uma atriz de TV foge dos paparazzi.
Lá do balcão do bar, o maitrè olha a mesa onde Júlia e Selma estavam. Vê somente um homem alto e louro curvado sobre o braço, como se estivesse dormindo.
DULCINÉIA E CAIO, encontro ou desencontro? Em que você aposta? Uma coisa posso te adiantar: a história da bolinha rolando pelo corredor ainda rendeu. E muito! Não perca o EPISÓDIO 25. Enquanto isso, Na Ponta do Lápis

EPISÓDIO 24 - 1ª parte

A TRAIÇÃO
1ª parte
JÚLIA SE ENCONTRA COM SELMA, UMA EX-COLEGA DE FACULDADE, NO GALERIA, O MODERNÍSSIMO SHOPPING FREQÜENTADO POR ARTISTAS, GENTE BADALADA, GENTE DA MODA E POR OUTROS QUE QUEREM APENAS FAZER FOOT .
OUÇA AGORA A CONVERSA DAS DUAS, ENQUANTO TOMAM UMA TAÇA DE VINHO E COMEM UMA SALADA VERDE, NUM LUGAR RESERVADO DE UM BAR.

- E o casório, sai ou não sai?
- Claro que sai! – responde Selma com segurança, cruzando as pernas bem torneadas e ajeitando os cabelos castanhos com os dedos.
- Tá mesmo apaixonada!
- Eu?
- Não?
- Júlia, o homem é riquíssimo. Qual mulher não se apaixonaria?
- Então está! – brinca Júlia.
- Vamos mudar de assunto?
- Ok. Dei um susto nos empregados depois que falei com você?
- Como?
- Me vesti. Gritei: vou sair para trair o meu marido! Você precisa ver a cara deles! – conta e dá a sua costumeira gargalhada.
- Você é doida, Júlia!
- Quando voltar, ajeito tudo. Já devem estar falando de mim. Você sabe como são os empregados. Aliás, não sabe! Ralando numa boutique ainda não passou por essa experiência.
- Casando com um dos homens mais ricos do Brasil, você acha que vou continuar ralando numa boutique?
- Vai haver um “enlace dourado” – brinca e soltou outra gargalhada.
- Querida, vou embora! Saí da boutique e vou passar uma semana num SPA. Tudo por conta do noivo! Tenho que fazer as malas!
- Selma, e o seu caso com o Carlo?
- Carlo é outra história. Depois conversamos!
Levanta-se, ajeitando o vestido que havia subido ao se sentar, deixando as pernas à vista. E alisando a cintura fina, como se estivesse moldando-a mais ainda, despede-se:
- Bye!
Sai jogando beijinhos e desaparece no imenso corredor.
Assim que Selma vai embora, sai de uma joalheria um executivo, alto e louro, olhos e terno pretos. O rapaz se dirige para a mesa onde Júlia está. Ela sorri alegremente, erguendo...
CONTINUA
Descubra quem é esse homem no EPISÓDIO 24 - final. Enquanto isso - Na Ponta do Lápis.

EPISÓDIO 23

JÚLIA, MÃE DE TINA, ESPOSA DO MINISTRO, APARECEU NA TRAMA PELA PRIMEIRA VEZ NO EPISODIO 13 - O TROCO - APÓS O ASSALTO NO SHOPPING GALERIA.

SUTILEZA? FUTILIDADE? ESPERTEZA?
- Cozinheira, o que você está fazendo?
- Preparando o almoço!
- Nada disso! Hoje vou fazer regime. Quem quiser comer, peça pizza!
- Mas dona Júlia...
- Nada de “dona Júlia”. Madame, ouviu?
- Sim, madame!
Júlia sai estabanada, passando os dedos nos móveis.
- Essa casa está muito suja! Cadê a arrumadeira?
- Não sei, madame!
- Procure saber. Traga-a aqui. Agora! Quero ver a cara dessa faxineira! Se é que ela existe!
Júlia senta-se no sofá, esticando as pernas sobre a mesinha do abajur, enquanto Penha sai à procura da arrumadeira. Quando a encontra, vai logo prevenindo:
- A tal da madame tá o bicho hoje!
- Ai meu Deus!
- É bom rezar mesmo! Tá chamando você. Leve espanador, flanela...

Ao ver a moça entrando na sala, Júlia vai logo gritando:
- Arrumadeira, na sua casa tem espanador? Você sabe como usar? Limpe logo esses móveis!
- Mas senhora...
- Senhora é a senhora sua mãe! Me chame de madame!
- Madame...
O telefone toca. Júlia corre para atender. Fala disfarçadamente, dando as costas aos empregados.
- Daqui a pouco encontro você!
Desliga o telefone e grita, gesticulando:
- Arrumadeira, pegue o vestido preto e os sapatos que deixei em cima da cama. Rápido!
A moça sobe as escadas correndo e mais correndo ainda, volta. Entrega as roupas à Júlia, que tira o hobby de seda ali mesmo, exibindo um corpo lipoaspirado e perfeito.
No mesmo instante, entra na sala um rapaz. Ao vê-la seminua, vira-se de costas. Júlia da uma gargalhada.
- Pode entrar, jardineiro!
Depois, remexendo os cabelos excessivamente negros de tintura, anuncia:
- Vou sair para trair o meu marido.
Em seguida, como se estivesse arrependida do que falou:
- Vou sair. Se meu marido ligar, diga que estou na sauna!
Sai rindo, cantarolando e rebolando. Quando chega na porta, adverte os empregados, esticando o dedo:
- Olho no meu filho, o Pedro Henrique, hein! Cadê a Tina, gente?
Nem espera a resposta. Pega o carro e se arranca dali, dando gargalhadas. O som da música ainda se ouve quando ela chega no portão.

Essa é a esposa do ministro. Lindíssima. Corpo malhado. Morena de bronzeado artificial. Olhos de um castanho mais chegado a mel. Elegantérrima. Pretensiosamente refinada. Entretanto, de uma grosseria fora do comum para com os empregados. Nunca os chamava pelo nome e sim pela profissão que cada um exerce.

Aborrecida com os maus tratos, a arrumadeira sugere:
- Essa madame pensa que “tem o rei na barriga”. Vamos armar uma pra cima dela?
Timóteo, o jardineiro, argumenta, deixando da sala:
- Você perdeu o juízo?
E Penha:
- Falando em perder, não vou botar o meu emprego em risco. Tenho dois filhos pra criar. Deixa essa doida pra lá. Conheço as maluquices dela há 11 anos.

Você nem imagina com quem Júlia se encontrou. Não percam o EPISÓDIO 24 – A TRAIÇÃO. E no blog de contos, Na Ponta do Lápis , uma aulinha de português.

Wednesday, October 11, 2006

EPISÓDIO 22 - final

UM AMOR DAS CORDILHEIRAS
(no ônibus, ao voltar pra casa)
- final

- Acho que te conheço. Você trabalha naquele colégio. Sou Caio e...
Ela não o esperou concluir a frase.
- Dulcinéia... vi o acidente de ontem com o ônibus!
- Viu?
- Conseguiu a bolsa pros filhos?
- Filhos?
- Você estava na fila!
- Ah não...
Dulcinéia percebeu que o rapaz falava com um ligeiro sotaque.
- Não conseguiu? Que pena!
- Quero dizer, não são meus filhos! É meu sobrinho. Minha irmã não pôde ir pra fila porque foi ao Chile resolver uns problemas. Então fui lá fazer a inscrição.
Dulcinéia sentiu o coração quase parar. Olhou ao redor, parecia que as luzes dos postes, refletidas no verde das árvores, dançavam à sua frente. O colorido das lanternas dos carros formavam uma corrente vermelha que a ela parecia uma marcha nupcial. As buzinadas no trânsito congestionado, todo aquele barulho chegava ao seus ouvidos como uma orquestra. Ela olhou ligeiramente para o rapaz que nunca abandonava aquele sorriso. Os sons e as cores do trânsito intenso envolveram-na. Só foi despertada do devaneio quando ouviu uma voz cansada dizer quase no seu ouvido:
- Dá licença, menina?
Era um cabecinha branca querendo passar. Dulcinéia se encolheu. Olhou discretamente para Caio e disse:
- Espero que consiga a bolsa pro filho da sua irmã!
- Também... – respondeu o rapaz, sem desviar os olhos do trânsito.
- Vou lá pra trás. Até amanhã, então!
Caio acenou com a cabeça, enquanto seus olhos buscaram rapidamente o retrovisor interno do ônibus. Ele disse apenas:
- Tchau!
Ela ficou decepcionada com aquele monossílabo. Empinou o corpo, ergueu a cabeça e foi girando a roleta, quando ouviu a voz com sotaque dizer.
- Amanhã vou tirar folga. Um colega vai me substituir. Na sexta estou de volta. Vê se não perde o ônibus!
Ela fitou o rapaz sem dizer nada. Seu coração disparou. A surpresa invadiu a sua fisionomia a ponto de fazê-la corar-se.
Tudo que Dulcinéia queria na vida era nunca mais perder aquele ônibus!
Agora é pra valer! Lá vem Júlia, fogosa, mandona, espalhando terror pela mansão. Não perca o EPISÓDIO 23. Enquanto isso, no Na Ponta do Lápis

EPISÓDIO 22 - 2ª parte

UM AMOR DAS CORDILHEIRAS - 2ª parte

Inesperadamente uma bolinha rolou pelo corredor. Dulcinéia ia correndo atrás, tentando alcançá-la, sem se importar com os olhares curiosos sobre si. A bolinha já estava quase chegando perto do motorista, quando alguém, usando uma sandália de saltos altos e uma habilidade de um jogador de futebol, deteve-a com o pé esquerdo, comprimindo-a no chão. Depois abaixou para apanhá-la. Ao abaixar, um barulho de correntes soou quase imperceptível em meio ao burburinho das vozes.
Andie ergueu-se com a bolinha na mão, olhando em volta com seus olhos azuis intensos, procurando o dono da bolinha. Dulcinéia sentiu ódio dela e encostou-se na parede, escondendo-se e mordendo o lábio.
KK e Tiago também correram na direção da garota, esquecendo completamente da copeira.
- Valeu! – falou Tiago, estendendo a mão pra pegar a bola.
- Lembra de nós? – quis saber KK.
A garota sorriu encantadoramente. Usava um jeans todo cravado de ilhós e correntes, e uma blusa lilás manga ¾, o que emoldurava os seus cabelos de um louro quase irreal.
- Pode crer!
- Que faz aqui?
- Vim falar com Tina.
- A filha do ministro?
- Isso!
Os dois adolescentes falaram quase ao mesmo tempo.
- Esquecemos seu nome!
- Andie von der Ghlantèe!
- Hum... nome de artista, véio!
Andie sorriu novamente. E acenou chamando:
- Tina!
A filha do ministro se virou, gesticulando e falando entre dentes:

- Rapido, Andie! Tô matando aula! Sua paixão Galvao não pode me ver!
A lourinha se movimentou:
- Vou nessa!
Saiu correndo pelo corredor, agitando as correntes. Quando chegou perto de Tina, deu uma bronca.
- Corta essa de paixão Galvão, Tina!
Ainda parados no corredor e sem desviar os olhos de Andie, KK e Tiago se entreolharam e literalmente berraram.
- Demais, mano!!!
As mãos estalaram no ar com tanta força que por um instante fez-se um silêncio surpreso na fila dos pais.
Disfarçando, os dois olharam em volta à procura de Dulcinéia.
- Caramba, vacilamos com a Dulce! – falaram, segurando as calças frouxas e saíram correndo ao ouvir o sinal para o início das aulas.
Encostada na parede, Dulcinéia assistiu a todo aquele entusiasmo, tremendo de raiva. De repente olhou as horas no painel eletrônico do corredor e percebeu que estava bastante atrasada para o trabalho. Saiu apressadamente. Lágrimas escorrendo pelas faces. Dirigiu-se para o vestiário e colocou o uniforme, gritando e dando pontapés no armário:
- Aquela branquela tinha que atrapalhar! Logo quando tive a chance de chegar perto dele. Que ódio!
Dulcinéia tramou uma vingança:
- Vou servir losna pra ela. Digo que é menta e quero ver aquela branquela vomitando na frente de todo mundo!
Falou alto e nem percebeu que uma colega acabou de entrar no vestiário.
- Falando sozinha, Dulce?
- Oh, Sabrina ... – ela começou a fazer uma cena. – estou apaixonada! Como o amor me faz sofrer! Ele está aqui no colégio, mas não quero que me veja de uniforme!
- Quem?
- Está na fila dos bolsistas. E o pior é que apareceu a tal da Andie e estragou tudo. E depois saiu correndo atrás da pesTina...
- Atrás de quem?
- Da creTina!
- De Tina, você quer dizer! Esquece... conta o que aconteceu!
Dulcinéia contou à colega o plano combinado com Tiago e KK. A colega não pôde conter o riso.
- Dulcinéia, você não tem jeito!

CONTINUA
Pode acreditar! Dulcinéia ainda foi pega de surpresa depois desse rolo todo. Sabe o que aconteceu? Não? Então leia o final do Episódio 22.

EPISÓDIO 22 - 1ª parte

Participam deste Episódio:
Dulcinéia, Tiago, Andie, KK, Wenderson, Tina e o motorista de dentes de dar prejuízo ao dentista.

UM AMOR DAS CORDILHEIRAS
1ª parte
Todo final de ano, o colégio onde trabalhava o prof. Galvão distribuía bolsas de estudos para alunos carentes. E era a época em que o PhD se sentia mais realizado. Ele chegava cedo ao colégio para ajudar na distribuição das senhas. Não recebia dinheiro pelo trabalho, somente o prazer do qual não abria mão. O acadêmico adorava o contato com as pessoas. E ver a multidão que se aglomerava no portão da escola, no anseio de conseguir uma vaga num dos melhores colégios da cidade, era para ele algo de especial.
Foi exatamente nesta manhã que Dulcinéia, chegando para o expediente, constatou que estava atrasada. Por isso, querendo passar despercebida, entrou pelo portão onde aglomeravam as pessoas. Para sua surpresa, Wenderson, o porteiro, estava postado lá. Dulcinéia fez meia-volta para não ser vista e passou no meio da multidão. De repente parou surpresa. Entre os pais estava o motorista, o do acidente do dia em que ela procurou a cartomante. Dulcinéia, meio feliz, meio decepcionada, concluiu:
- Se ele está aqui na fila, deve ser casado!
Esta preocupação durou poucos segundos. Um pensamento travesso invadiu a sua mente.
- Já estou atrasada mesmo! A diretora Clarice nem vai me ver. O prof. Galvão tá bem longe, distribuindo as senhas...
Sorrateiramente, Dulcinéia foi correndo procurar o aluno Tiago, seu melhor amigo, com um pedido até certo ponto estranho. O rapaz se mostrou relutante.
– Sei não, Dulce! Vai pintar sujeira! O professor já deu bronca na gente. Se eu levar uma advertência, meu pai me tira o carro. Você sabe!
- Sei é de uns docinhos que mamãe fez ontem. Hum... ela colocou figo cristalizado e damasco. Uma delícia!
- Você trouxe pra gente?
- Trarei amanhã, se meu plano for bem executado!
- Beleza! Vou combinar com o KK. Ele trouxe a bolinha e a raquete. Vai ter um torneio no colégio nos dois últimos horários.
- Tiago, nem quero saber de raquete! Só se for pra dar umas raquetadas na sua cabeça, se meu plano falhar!
- Tá limpo!.
Instantes depois o portão foi aberto e as pessoas começaram a entrar ordenadamente na escola, fazendo uma fila que começava no guichê de uma sala até se perder de vista.

CONTINUA
Dulcinéia não imaginava que o seu plano fosse tão... tão... bem, não conto nada! Melhor você mesmo ler a 2ª parte do Episódio 22.

Wednesday, October 04, 2006

EPISÓDIO 21

EM BUSCA DO FUTURO
- Senhora, tive um sonho noite dessas...
- Um momento! Você dorme de dia?
- Claro que não. Trabalho!
- Então o sonho só pode ter sido à noite. Continue!
Dulcinéia se irritou com a cartomante, a qual trajava roupas indianas e fitava-a com um olhar completamente desprovido de emoção, como se não houvesse ninguém a sua frente, contudo resolveu não perder a paciência. O seu futuro estava nas cartas daquela mulher. Assim, começou a contar o sonho.
- Um rapaz chegava num cavalo branco, retirava uma faixa da cintura e atirava a faixa...
Com a mão direita sobre uma carta, a mulher quis saber:
- Faixa branca? Grande?
- Sim.
- A faixa representa vida longa. O branco, a paz.
- E o rapaz?
- Minha filha, a mulher do cavalo é que ele não pode ser. O rapaz é o amor que vai aparecer na sua vida. – disse a mulher, correndo os olhos pela minúscula sala decorada com paisagens de calendários, presas nas paredes com durex.
- Ela me arrebatava da varanda, jogava na garupa do cavalo e...
Ajeitando um lencinho lilás que prendia os cabelos castanhos, ao mesmo tempo em que observava uma carta, a cartomante disse bruscamente:
- Momento! Vejo umas crianças.
- Bebês? – ela arregalou os olhos assustada. - Meu Deus, que será que vou ser mãe de trigêmeos? Ou são os meninos do colégio?
- Você disse colégio?
- Sim.
- Então é isto! Veja um professor, alunos, uma mulher muito importante, morena...
Dulcinéia pensou no renomado professor com aquele seu jeito determinado de resolver as coisas e na diretora Clarice, sempre impecável e luxuosa no vestir.
- Se for quem estou pensando, lá do colégio, ela é loura.
- Filhinha, toda mulher, depois de certa idade, fica loura!
Mentalmente Dulcinéia reviu Clarice em torno dos seus 40 anos. E chegou a conclusão de que a cartomante estava com a razão.
- Esta mulher é sua amiga?
- Sei lá... É a diretora.
- Cuidado com ela!
- Por que? – Dulcinéia arregalou os olhos, abrindo ligeiramente os lábios.
- Vejo aqui rosas vermelhas, que representam namoro, ciúmes...
Dulcinéia ficou na ponta dos pés, apoiou os cotovelos sobre a mesa, olhou a carta na mão da mulher e retrucou:
- Essa rosa aí não é vermelha nem na China. Pra mim é azul.
Madalena olhou para a copeira com um olhar de arrancar pedaços.
- Você também lê cartas?
- Claro que não!
- Então fique quietinha no seu canto!
- Que tem as rosas a ver com a mulher?
- Só o tempo dirá! – sentenciou a cartomante com voz carregada de mistério e fitando uma cortina de chita que já passava da hora de ser lavada.
Dulcinéia se calou, pensando em sua mãe – dona Maria Porém, que a advertia para não dar créditos a essas crendices, já começando a desconfiar da cartomante, que rispidamente, encerrou a sessão.
- Pode ir agora. Seu tempo acabou!
- Mas, quero saber se o meu amor vai....
Mudando completamente o tom de voz, a mulher aconselhou:
- Filhinha, você está ansiosa. Paciência! Breve ele chegará!
No exato momento em que a mulher dizia essas palavras, ouviu-se uma freiada brusca de um ônibus, seguida de um estrondo. Dulcinéia e a cartomante correram para a janela. Os curiosos já haviam chegado ao local e formavam um círculo, o que impedia de ver se havia alguma vítima.
O ônibus, tentando se desviar de um bêbado, bateu de cheio num poste. Dulcinéia saiu correndo da casa da cartomante e foi juntar-se à multidão. Foi então que ela viu um rapaz de costas, usando uniforme azul, cabelos negros cortados rente à nuca, enxugando o suor do rosto com uma flanela.
Minutos depois uma viatura da polícia chegou. Desceu um policial com uma prancheta na mão e dirigiu-se ao rapaz de uniforme azul, que se virou, mostrando o rosto. Dulcinéia estremeceu ao reconhecer o motorista novato da linha. Seu coração pulou de alegria. Virou-se e viu a cartomante na janela, olhando abstraída para o local do acidente.
Sentiu vontade de chamá-la de mentirosa, mas olhou novamente para o rapaz, que trazia um sorriso nos lábios, o mesmo sorriso que a fez estremecer naquele dia. Ela apontou o dedo na direção da janela e concluiu:
- Aquela charlatona está errada! O meu amor está aqui bem perto, enxugando o suor da testa com a flanela.

Lembra-se de Júlia - esposa do Ministro, mãe de Tina - que estava no shopping Galeria no dia do assalto? Ela está de volta, fogosa, mandona, espalhando terror pela mansão... EPISÓDIO 23.
E uma surpresa no Na Ponta do Lápis