EPISÓDIO 13

Havia na Ala Oeste do Galeria uma lanchonete especializada em fast food dietético, muito requisitada por pessoas que queriam manter um padrão adequado de peso.
No mesmo dia, depois de alguns minutos do assalto à joalheria, apareceu no local uma mulher alta, elegantíssima, de cabelos negros a altura dos ombros e toda de preto. Entrou apressadamente no recinto e foi direto para uma mesa de dois lugares, quase escondida num canto. Mesmo vendo o garçom vindo na sua direção, sacudia a mão em gestos nervosos, convidando-o a se apressar. Um rapaz magro e louro, que usava calca preta, blusa azul turquesa e um avental branco à altura dos joelhos, atendeu-a.
- Pois não, madame!
- Chá de erva-doce, por favor!
- Madame, aqui não servimos chá. A nossa especialidade é sucos e sanduíches. Tudo natural!
- Eu não perguntei qual é a especialidade da casa. Pedi chá. – disse a mulher, abrindo a bolsa de onde sacou uma nota de R$ 50,00 e a faz deslizar discretamente sobre a toalha da mesa na direção do garçom.
Com uma expressão ávida no rosto, o rapaz olhou rapidamente ao redor e mais rápido ainda, embolsou a nota.
- E pra já, madame!
Em seguida, atravessou apressadamente o salão sem dar atenção aos chamados de outros fregueses e entrou na cozinha. Foi logo dizendo a um colega.
- A madame lá naquela mesa quer um chá de erva-doce!
O outro olhou na direção apontada e viu uma mulher de aproximadamente uns 35 anos, luxuosamente vestida, sentada com as pernas cruzadas de lado da cadeira.
- Mas não temos erva-doce!
- Não tínhamos! Esta nota aqui diz que temos. – exibiu a nota. - Agora, corre ao supermercado. Se não voltar dentro de 10 min, está despedido.
O rapaz saiu correndo pela porta dos fundos.
II
Depois que tomou o chá, a mulher chamou o garçom.
- O meu troco!
- Troco, madame? A sra ainda não pagou!
- Não? E aquela nota de R$ 50,00 que saiu daqui? – mostrou a bolsa.
- Pensei que...
- Pensou nada! Me devolve a nota ou faço um escândalo. "Você sabe com quem esta falando" – disse, num outro tom de voz e deu uma sonora gargalhada, olhando para cima, como se o nariz perfilado por uma milionária plástica estivesse mirando o teto.
Assustado, o rapaz saiu correndo. Imediatamente voltou com a nota. Ela se levantou, pegou a bolsa e foi saindo. Quando chegou na porta, voltou-se e falou para o garçom, apontando o dedo.
- Subornável!
III
Saiu rebolando pelo corredor e viu policiais postados nas portas do Galeria, que estavam todas fechadas. Achou aquilo estranho, mesmo assim foi andando na direção da saída. Uma policial feminina abordou-a.
- Documentos, por favor!
- Dá licença?
- Não pode sair!
- Eu paguei a conta!
- Senhora, não ouviu o alarme?
- Que alarme? Se toda vez que eu ouvir um alarme, sair correndo, fico maluca. Lá em casa tem alarme até no galinheiro.
Disse e caiu na gargalha, erguendo a cabeça para o alto e balançando os cabelos excessivamente negros de tintura, que roçavam nas costas. A policial não achou a menor graça e tornou a dizer:
- Documentos!
A mulher repetiu a frase que disse ao gerente da lanchonete, fazendo aquela voz impostada de gente importante.
A policial apontou para um ônibus parado no estacionamento do shopping.
- Ou prefere mostrar os documentos na delegacia?
Diante do argumento, ela abriu a bolsa e mostrou uma carteirinha verde, com emblema do governo. Imediatamente houve uma mudança de atitude.
- Júlia Conceição de...
- Fala baixo! Quer me matar de vergonha? Odeio esse nome!
- ... esposa do Ministro...
- Ai soa melhor! Pode falar alto, viu?
- Pode ir! Está liberada, madame!
Ela deu outra sonora gargalhada e saiu rebolando ainda mais, apontando para a policial com a mão esquerda. E com a direita, acenou para um táxi. O vestido negro coladíssimo no corpo e os dois braços abertos, davam a Júlia a aparência de um pássaro ensaiando o vôo.
E no EPISÓDIO 14, você verá pela primeira vez o renomado prof. Galvão em sala-de-aula em ECONOMIA VERMELHA. Enquanto você aguarda, leia o Na Ponta do Lápis.